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Economia

Governo japonês incentiva trabalhadores a tirarem uma manhã de segunda-feira de folga, por mês

Da Redação - 21 de Agosto de 2018 | 20h 15
Governo japonês incentiva trabalhadores a tirarem uma manhã de segunda-feira de folga, por mês
Foto: Reprodução

O governo do Japão está incentivando os trabalhadores a folgar uma manhã de segunda-feira por mês. O Ministério da Economia do país deseja, com isso, reduzir o número de horas extras feitas pelos japoneses, gerando um maior equilíbrio entre suas vidas profissional e pessoal.

De acordo com o Uol Economia, a iniciativa deriva de outra medida lançada pelo governo japonês no ano passado, com o intuito de incentivar o consumo. Na ocasião, as companhias foram encorajadas a liberar os funcionários a partir das 15 horas, sempre nas últimas sextas-feiras do mês. Isso porque é nesse período que muitos japoneses recebem seus salários. A ideia, então, era estimulá-los a usarem esse dinheiro para comprar e fazer viagens.

O novo plano é baseado em um experimento realizado pelo próprio Ministério da Economia, na manhã do dia 27 de julho, quando a chefia liberou 30% de sua equipe. Como os resultados foram considerados satisfatórios, o órgão resolveu elaborar uma proposta ao mundo corporativo japonês. A adesão, assim como no programa da sexta-feira, será voluntária.

Segundo o Uol Economia, no primeiro ano, O Ministério da Economia do Japão notou que o programa de incentivo à liberação das sextas-feiras após as 15 horas teve um resultado bem acanhado, mesmo com as lojas e restaurantes oferecendo descontos para atrair a clientela. Apenas 11% dos funcionários japoneses aproveitam a oportunidade de ter algumas horas livres.

De acordo com o site, isso ocorre porque a última sexta-feira do mês é o dia em que empresas estão sob pressão para fechar as contas e entregar projetos. Em função disso, os idealizadores do programa tiveram a ideia de oferecer a manhã da segunda-feira subsequente como opção de turno livre.

EXCESSO DE TRABALHO – Outra preocupação também motiva o Japão a pensar estratégias para aliviar o peso das horas extras na rotina de seus trabalhadores: as consequências e os impactos do excesso de trabalho na saúde física e mental dos japoneses. Em 2016, o governo realizou uma pesquisa com 10 mil trabalhadores e constatou que mais de 20% deles estava fazendo mais de 80 horas extras mensais.

Conforme o Uol Economia, desde 1960, o Japão registra casos morte por excesso de trabalho. A karoshi, como é denominada no país, é causada, sobretudo, por doenças cardíacas e mentais associadas a horas exaustivas no emprego. Ainda segundo o portal, o governo japonês reconheceu terem ocorrido 236 karoshis no ano financeiro de 2017.

A incidência de outro fenômeno associado à jornada exaustiva de trabalho também impressiona: 208 suicídios foram oficialmente considerados karojisatsus, isto é, “quando um trabalhador tira a própria vida por problemas mentais que podem ser ligados a experiências no ambiente profissional”.

De acordo com o portal de notícias, os especialistas dizem que essas estatísticas são apenas a ponta do iceberg. Isto porque uma média de 2 mil famílias pedem indenizações por casos de mortes similares, todos os anos.

Em 2017, um estudo do Instituto Nacional Japonês de Segurança e Saúde Ocupacional identificou que os casos de suicídio estão aumentando, principalmente entre pessoas jovens, com idades entre 20 e 29 anos. “Em um caso célebre, Matsuri Takahashi, uma funcionária de 24 anos do escritório de publicidade Dentsu, cometeu suicídio após fazer mais de 100 horas extras nos meses antes de sua morte, em 2015”, diz o Uol Economia.

As autoridades japonesas acabaram concluindo que a jovem se matou em consequência do volume excessivo de trabalho. Segundo o site, em outubro, a empresa foi multada em apenas 500 mil ienes, o que corresponde a R$ 20 mil, por permitir que a funcionária ultrapassasse o limite de horas extras.

A reportagem do Uol Economia também apurou que, no ano passado, a emissora de TV NHK admitiu publicamente que a morte da repórter Miwa Sado, de ataque cardíaco, em 2013, também foi um caso de karoshi. A jornalista de 31 anos havia feito 150 horas extras em um único mês.

Já em fevereiro desse ano, uma empresa japonesa concordou em pagar o equivalente a R$ 2,8 milhões à família de Kota Watanabe, de 24 anos, que morreu em um acidente de trânsito ao voltar para casa após uma exaustiva jornada de trabalho noturna. Conforme o Uol Economia, o caso foi considerado um alerta ao mundo corporativo japonês, servindo para lançar uma luz sobre um outro fenômeno bem menos conhecido: okaro-jikoshi, ou seja, morte por acidente resultante do excesso de trabalho.

CULTURA CORPORATIVA – De acordo com Sawako Shirahase, do departamento de Sociologia da Universidade de Tóquio, “as longas horas de trabalho no Japão são um problema básico, que deriva da ética de trabalho e cultura corporativa enraizadas no ambiente profissional e no estilo de trabalho” japonês.

A especialista acredita que os programas lançados pelo governo são ações “isoladas” e que não alcançarão a população como um todo. Para ela, as medidas “beneficiarão apenas um número limitado de profissionais que trabalham nos escritórios de grandes empresas”.

O Uol Economia levantou dados importantes sobre a jornada de trabalho no Japão. Segundo o portal, “o profissional japonês trabalhou, em média, 1.710 horas em 2017, mais do que em outros países desenvolvidos da Europa, mas menos do que nos Estados Unidos, na Coreia do Sul e em diversas nações emergentes”. No entanto, os especialistas afirmam que muitos funcionários trabalham mais horas do que é registrado.

O premiê japonês Shinzo Abe impôs um limite de 100 horas extras por mês, na tentativa de combater o problema. Os partidos de oposição, por sua vez, dizem que a medida não será suficiente.

Ainda segundo o Uol Economia, “na Coreia do Sul, onde o profissional médio trabalhou mais de 2.000 horas em 2017, grandes empresas foram forçadas a reduzir a semana de trabalho de 68 horas para 52 desde julho”.

Sawako Shirahase também pede “iniciativas fortes dos líderes nas empresas”, a fim de mudar a cultura de trabalho no Japão, além de reivindicar programas de saúde mental e mais ações por parte do governo.

A reportagem do Uol Economia apurou ainda que, de acordo com o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, os trabalhadores japoneses só tiram oito dias de férias por ano, o que corresponde a menos da metade do que poderiam tirar. E a experiência das férias não se revela relaxante para boa parte dos trabalhadores que gozam desse direito. Uma pesquisa realizada pelo site de viagens Expedia aponta que três em cada cinco japoneses se sentem culpados por não trabalhar.



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