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Economia

Crise faz crescer diferença salarial por anos de estudo

11 de Agosto de 2018 | 09h 45
Crise faz crescer diferença salarial por anos de estudo
Foto: Reprodução
Ter um diploma de curso superior não é garantia de emprego, mas coloca o trabalhador em vantagem salarial cada vez maior. Um trabalhador com ensino superior completo recebe, em média, 5,7 vezes o rendimento de um brasileiro com até um ano de estudo. O aumento dessa disparidade é mais um dos efeitos perversos provocados pela crise econômica: os brasileiros que foram para a escola por menos tempo têm sido os mais prejudicados pela piora no mercado de trabalho.
 
Atualmente, um trabalhador com ensino superior completo tem um rendimento médio de R$ 4.911,66, enquanto um brasileiro com até um ano de estudo ganha R$ 859,81. A diferença entre os rendimentos dos dois grupos, de 471%, é maior do que foi no ano passado, de 443%. Mas já foi ainda pior: em 2012, os mais escolarizados ganhavam em média quase 500% mais que os que tinham até 1 ano de estudo.
 
E não piorou só para quem tem pouco estudo: para os brasileiros com ensino médio completo, o diferencial neste ano em relação a quem tem o superior completo chegou a 169%. É a diferença mais elevada desde 2012.
 
Os dados constam em um estudo feito pelo pesquisador Sergio Firpo, professor do Insper. Desde o fim dos anos 90 e, sobretudo ao longo do início dessa década, a economia brasileira conseguiu diminuir a disparidade de salário entre os diferentes níveis de escolaridade, o que foi fundamental para a redução da desigualdade, por exemplo.
 
"Em algumas faixas de escolaridade estamos observando uma volta da diferença salarial para o patamar observado em 2012", afirma Firpo. Os números da pesquisa foram extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) e tiveram como base o rendimento mensal habitual do trabalho principal de brasileiros com mais de 14 anos.
 
"Há uma piora do quadro, embora ela seja lenta. Mas é importante lembrar que esse diferencial já foi maior, sobretudo nos anos 90 e no início dos anos 2000", afirma Firpo.
 
Parte da piora pode ser colocada na conta do crescimento da informalidade no mercado de trabalho, onde a remuneração em geral é menor do que no mercado formal.
 
Caso de Daniele Feitosa da Silva, 30, demitida de uma confecção têxtil há dois anos, que concluiu o ensino médio e tem enfrentado dificuldade para se recolocar. Desde que foi dispensada, não conseguiu emprego formal. A renda mensal de R$ 1,2 mil caiu para R$ 500 graças aos bicos que consegue fazer em trabalhos de limpeza. Nas últimas semanas, passou a procurar emprego como atendente e caixa de supermercado.
 
Com três filhos, Daniele tem sido sustentada pelo marido, que trabalha como tatuador, a com a renda da sogra. "Em casa, cortamos bastante coisa: o passeio das crianças, o gasto com roupas e o supermercado. Já são dois anos desempregadas e sem muita perspectiva", afirma.
 
Assim como Daniele, os trabalhadores de baixa qualificação que não conseguem se recolocar no mercado de trabalho têm optado pelo tradicional bico para reforçar a renda mensal.
 
Tatiane de Amorim, de 34 anos, está sem emprego desde 2017. O último trabalho foi como operadora de caixa. Com dois filhos, a renda da casa está sendo garantida pelo marido, que trabalha como motorista de ônibus. Para ajudar no orçamento doméstico, ela tem trabalhado como manicure. "Mas muitas pessoas deixaram de procurar manicures para economizar. As pessoas dão preferências para outros gastos", diz Tatiane.
 
Na plataforma digital Bicos, que se propõe a fazer a conexão entre os que precisam de trabalho e aqueles que procuram, a maior parte do cadastro de quem procura pela renda extra é de mulheres de baixa escolaridade.
 
"A procura maior é por trabalhos que exigem pouca qualificação, sem a necessidade de um curso específico. Há uma grande procura por diaristas e garçons", afirma a gerente de produtos de Bicos, Priscilla Comitto.
 
Com a recessão e a lenta saída da crise econômica, os trabalhadores com menos escolarização foram os mais prejudicados pelo fechamento de postos de trabalho. No primeiro trimestre deste ano, a ocupação para os trabalhadores sem instrução ou com menos de um ano de ensino recuou 19,9% na comparação com o mesmo período de 2017.
 
 
Entre os brasileiros que concluíram o ensino médio, a ocupação cresceu 2% neste ano e, para os trabalhadores com ensino superior, o avanço foi de 5,3%.
 
"Durante a crise de 2015 e 2016, houve uma perda forte de vagas nas pessoas com menor escolaridade. Elas acabaram sendo mais prejudicadas", afirma a economista e sócia da Tendências Consultoria Integrada, Alessandra Ribeiro.
 
Além de enfrentar um mercado de trabalho mais restrito ou que cresce num ritmo mais fraco, os trabalhadores menos escolarizados ainda viram a concorrência aumentar. Nos últimos anos, os brasileiros estão passando mais tempo na escola - em média, 9,1 anos - e, portanto, hoje há mais trabalhadores com alguma qualificação melhor para um mercado reduzido.
 
"O ensino médio se popularizou muito, então a oferta de pessoas com esse nível de escolaridade tem mais concorrência para trabalho, enquanto a demanda diminuiu", afirma o diretor da FGV Social, Marcelo Neri.
 
Os dados da última Pnad sobre educação revelaram, por exemplo, que a quantidade de brasileiros com mais de 25 anos e que concluiu ensino médio era de 26,3%. A fatia de brasileiros com ensino superior é de 15,3%, enquanto a quantidade de brasileiros sem instrução ou com menos de um ano de estudo ficou em 11,2%.


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