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André Pomponet

Redes sociais incubam o ódio no Brasil

André Pomponet - 16 de Abril de 2018 | 12h 41
Redes sociais incubam o ódio no Brasil

Há quase quatro anos que o Brasil se arrasta sob a atmosfera pestilenta do ódio político. Na verdade, a coisa começou a efervescer nas jornadas de junho de 2013, quando desassombrados simpatizantes dos arranjos autoritários foram às ruas com uma agenda que, até aquele momento, parecia ter sido enterrada com a ditadura militar.

Na campanha eleitoral de 2014 o ódio regurgitou, estabelecendo uma cisão de classes que ganhou, inclusive, um enganoso recorte geográfico: de um lado, o moderno e progressista eixo Sul/Sudeste e, do outro, o Norte/Nordeste com suas mazelas e sua gente atrasada, votando no petê.

Dilma Rousseff (PT) prevaleceu nas urnas – reelegeu-se no segundo turno – mas não experimentou, sequer, uma semana de trégua: recontagem de votos, crime de responsabilidade, abuso de poder econômico e, finalmente, impeachment tornaram-se expressões comuns no noticiário político logo na semana seguinte às eleições.

A catástrofe econômica que se seguiu – a maior recessão das últimas décadas no País – quase leva a nau brasileira a adernar. E serviu para ampliar a instabilidade política, levando muitos oportunistas a apostar no caos e, logicamente, na derrocada da gestão petista. O fim é conhecido: o intenso arranca-rabo descambou no impeachment em 2016, com cenas célebres de corruptos notórios celebrando a vitória hipócrita contra a corrupção.

Desde então, porém, as animosidades não arrefeceram. Pelo contrário: permaneceram ativas nas redes sociais, notórias incubadoras da discórdia, da cisão e do ódio. Aqui ou ali avultavam, em episódios esparsos, mas todos se resguardavam para a maior batalha vindoura no curto prazo: as eleições de 2018.

Eleições 2018

Pode-se concluir que as eleições de 2018 começaram ano passado, quando Lula – ex-presidente e líder na corrida sucessória até aqui – foi condenado no controverso episódio do triplex. A confirmação de sua condenação em segunda instância – o que, supostamente, inviabiliza sua permanência nas eleições presidenciais –, a negação do pedido de habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal e, por fim, a prisão, integram o enredo que o alija do processo eleitoral.

Lula, a propósito, é um dos principais protagonistas – se não o principal – desses tempos de exacerbadas emoções à flor da pele. Para os acólitos do petê e partidos satélites, Lula é uma espécie de divindade, uma figura mítica, messiânica; para seus detratores – sobretudo a linha-dura que aflorou a partir do mencionadas manifestações de 2013 – trata-se da encarnação do Mal; uma figura pérfida, capaz das mais abjetas torpezas.

Sociedades movidas por dicotomias tão radicais tendem à fissura, à desagregação. Essas visões dicotômicas, binárias, inclusive, não se aplicam apenas à leitura sobre Lula: aplicam-se às demais esferas da vida política e até sobre a economia, como se os processos dessa última fossem movidos pela passionalidade das gincanas.

Isoladas, as opiniões do “homem da rua” valiam pouco. Hoje, agrupadas nos caldeirões das redes sociais, ganham força porque se impõem pela vacuidade e pelo apelo às fórmulas fáceis. Daí para os entusiastas dessas receitas se agruparem em raivosas milícias digitais é só um passo. E apenas outro para ganharem as ruas, em intrépidas patrulhas.

Faltam longos seis meses até as eleições e o clima no País já é de beligerância explícita. O próprio comandante do Exército – corporação retraída até então – deu declarações inquietantes antes do julgamento de Lula. Sinal que a democracia vem se tornando artigo barato no Brasil nos últimos anos, depois de tanta luta para se alcançar um patamar mínimo de civilidade.

Qual será o próximo passo dessa derrocada? Não surpreenderia a recriação do Departamento de Ordem Política e Social, o finado Dops.



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