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André Pomponet

Dominação chinesa cresce sem contestação

André Pomponet - 12 de Fevereiro de 2018 | 10h 13
Dominação chinesa cresce sem contestação

Foi-se o tempo em que a presença chinesa no Brasil se resumia às quinquilharias que eram importadas via Paraguai – em prolongadas e arriscadas viagens de ônibus – e revendidas nos camelódromos que foram se proliferando a partir da prolongada crise dos anos 1980. Desde 2009 que os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil. Naquele ano, ultrapassaram os Estados Unidos. Edesde 2003os investimentos totalizam US$ 53,5 bilhões de dólares.

Na imprensa, alardeia-se que “empresários chineses” fazem investimentos no País. Balela: a estimativa é que o montante aplicado pelo Estado chinês,via empresas estatais, bordeje os US$ 40 bilhões, desde 2003 também. Os setores de energia, logística e agricultura figuram entre os preferenciais dos asiáticos.

Michel Temer (PMDB-SP), o mandatário de Tietê, esteve na China numa de suas primeiras incursões internacionais. A justificativa para a festiva viagem foi atrair investimentos. Coincidência ou não, ano passado, os chineses investiram R$ 20 bilhões por aqui, segundo noticiou a imprensa especializada. Aproveitaram o ambiente de desmanche da nação para comprar tudo que puderam.

Em tese, o liberalismo caipira brasileiro deveria alcançar múltiplos orgasmos privatistas. Afinal, o patrimônio estatal está sendo alienado, com todos os propalados benefícios que – reza o discurso convencional – decorrem da iniciativa. Embora, claro, parte dessas vantagens pareça um inverossímil enredo de ficção, já que não costumam ser vistas aonde o desmanche do Estado avançou.

Liberalismo troncho

As ruidosas comemorações dos nossos heroicos liberais, porém, não deixam de ser encalistradas. Afinal – conforme se mencionou – parte do patrimônio dos brasileiros está sendo entregue ao Estado chinês. Isso mesmo: todo aquele papo da eficiência, da superioridade da gestão privada e outras lendas cai por terra.

Ninguém reclama desse detalhe: os chineses estão aí na crista da onda, despejam dinheiro num mundo em crise e, por aqui, quem tem dinheiro costuma ser tratado com redobrados rapapés. É parte da cultura da elite brasileira, a propósito, aceitar, ingerências externas. O País nasceu submisso com Portugal, associou-se à dominação e aos interesses ingleses por muito tempo, flertou com o refinamento francês e, por fim, foi subjugado pelos norte-americanos. Pelo jeito, chegou a vez dos chineses.

A leitura liberal troncha – que se prende à forma e ignora a qualificação do conteúdo – apoia, com entusiasmo, o fortalecimento dos laços bilaterais entre os dois países. A predatória indústria chinesa está extinguindo postos de trabalho no Brasil? É mimimi desenvolvimentista. Estamos voltando à época da economia primário-exportadora, reassumindo a condição de meros exportadores de commodities? Devemos nos especializar naquilo que somos bons e tudo se resolverá via "deus mercado".

Imperialismo chinês?

A esquerda cartorial, trôpega, tampouco reclama. Afinal, dizem que os chineses são comunistas. Sendo assim, tudo bem: devemos aceitar a condição de satélites da maior nação comunista do planeta. É aprédica do Partido Comunista Chinês (PCC) à qual todos se submetem. O desmanche do Estado brasileiro– o patrimônio do País está sendo repassado, ironicamente, ao Estado chinês – não sensibiliza mais a velha esquerda que engordou e bebe seu uísque nos finais de tarde.

O avanço asiático – justiça seja feita – não começou a partir da rasteira emedebista e da ascensão de Michel Temer. Era saudada com entusiasmo desde o início da década passada, quando o petê chegou ao poder. Nos últimos anos se intensificou alcançando a agricultura – querem, eles mesmos, produzir aqui a soja que consomem – e em infraestrutura, pois também almejam construir e operar a infraestrutura logística que escoa aquilo que produzem e consomem.

Pragmáticos, os chineses avançam sobre a infraestrutura de qualquer país que naufraga. Foi assim com o setor portuário da Grécia e está sendo assim também com o Brasil. Por aqui, o processo flui sem crítica: a direita exulta e a esquerda aquiesce. É mais uma prova inequívoca que nenhum dos lados da contenda possui um projeto de nação.

Os chineses, por outro lado, possuem. E atravessam o planeta para vir implementá-lo por aqui.



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