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Vítimas falaram à Comissão da Verdade

20 de Abril de 2015 | 09h 03
Vítimas falaram à Comissão da Verdade

No dia 31 de março deste ano, aniversário de 51 anos do golpe que implantou no país a ditadura militar, a Comissão da Verdade que colheu depoimentos de vítimas no estado, apresentou na Assembleia Legislativa o livro que contém o relatório das atividades, com ênfase no depoimento dos que foram presos e torturados. Muitos deles em Feira de Santana.

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A Tribuna Feirense reproduz abaixo o depoimento de Estêvão Moreira, que aos 88 anos, apresentou seu relato em uma das audiências públicas. Estevão Moreira em 1964 era contador, dirigente do Partido Comunista e atuava pelo partido no setor operário. Sua prisão ocorreu na noite do dia 04 de abril, na casa da tia, onde estava escondido:

 

“Fui espancado naquela noite pelo sargento de plantão que me fazia perguntas acusatórias sobre A, B ou C dos companheiros e eu respondia que não sabia. Eles me esbofeteavam. Entretanto, o capitão e policiais da delegacia suspenderam o espancamento. Perdi aí alguns dentes. Fiquei preso ali, na sala mesmo, até pela manhã, quando o carro me levou para Salvador, para o Quartel dos Aflitos. Lá encontrei vários amigos e correligionários presos. Então, todos tivemos que ficar o dia todo em pé, não tinha direito de sentar.

Quando foi à tardinha, nos transferiram para o Quartel dos Dendezeiros. Dois ou três dias depois, eu fui acordado à noite, às dez horas. E me levaram algemado para o Quartel dos Aflitos e lá sofri um interrogatório. Eles queriam que eu denunciasse que o prefeito Francisco Pinto estava organizando uma resistência e eu dizia que não tinha conhecimento nenhum disso. Nesse dia foi só para acusar Francisco Pinto, o prefeito que todos nós lembramos dele, então, eles me puseram num pau de arara. Os senhores sabem o que é um pau de arara? A gente fica amarrado pés e mãos numa barra de ferro e posto horizontalmente sobre dois cavaletes e a gente fica naquele desconforto terrível e eles continuam o processo de perguntas, o interrogatório. Então, eu respondia que não sabia do que estavam perguntando e que eles estavam me assassinando. 

Demorei alguns minutos e quando eles sentiram que realmente eu poderia morrer - porque naquele pau de arara a gente fica sem condição de respirar, o sangue todo sobe para a cabeça e tal, eu tava na possibilidade de morrer - eles me tiraram do pau de arara e me botaram no chão e me deixaram lá amarrado também e fiquei lá. Quando foi pela manhã me transferiram novamente para o Quartel General lá da polícia.



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