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Política

Pinto fez greve de fome para passar por “mártir encarcerado”, diz documento da PM de 1975

Glauco Wanderley - 20 de Abril de 2015 | 09h 02

O documento revela que Chico Pinto ficou três dias sem comer

Pinto fez greve de fome para passar por “mártir encarcerado”, diz documento da PM de 1975
Documento está no acervo entregue à Uefs

Em documento que faz parte do acervo do SNI (Serviço Nacional de Informações), órgão de espionagem da ditadura militar, o político feirense Chico Pinto é considerado um fingidor, que vivia na prisão sem reclamar, e resolve de repente passar-se por “mártir encarcerado”.

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Uefs recebe arquivos da ditadura na Bahia

A risível conclusão está em um dos documentos que constam no material entregue à Uefs nesta quinta-feira, referente à ditadura militar na Bahia. É uma correspondência com carimbo de confidencial, sobre a greve de fome feita por Chico Pinto na prisão em 1975.

Como deputado, o político feirense discursou na tribuna da Câmara criticando a visita do ditador Augusto Pinochet ao Brasil e foi punido com a perda do mandato.

Pinto estava preso desde outubro do ano anterior, aguardando julgamento pelo “crime” de atacar o sanguinário ditador, amigo dos ditadores que comandavam o Brasil.

O documento da Polícia Militar do Distrito Federal, sem autor identificado, é datado de 20 de março de 1975 e revela que no dia 14 Pinto entrou em greve de fome e passou a recusar visitas.

O autor do relato demonstra perplexidade com a atitude de Chico Pinto, visto que a previsão era de que seria solto em abril, após cumprir pena de seis meses. “Inexplicavelmente deixa de barbear-se, alimentar-se, furtando-se inclusive ao recebimento de visitas”. Até então, as visitas eram freqüentes, segundo a PM, que inclusive anexou uma lista de pessoas que estiveram no quartel para vê-lo.

Segundo o relato, Pinto desistiu da greve de fome no dia 17, após conversa com o major Carlos Krause, sub-comandante do quartel do primeiro batalhão, onde estava preso. Mas continuou a recusar as visitas.

A conclusão do autor é que Pinto queria, ao ser solto e se apresentar diante do Supremo Tribunal Federal, onde ainda seria julgado, “dar uma ideia distorcida da sua permanência em quartel de polícia, tentando por meio de tal expediente criar em torno de si a figura do mártir encarcerado”.

Para embasar tal conclusão o documento procura convencer de que o preso recebia um bom tratamento, “recolhido em dependência condigna à sua pessoa”, comia a mesma comida dos oficiais, recebia destes o tratamento “mais respeitoso possível” e não demonstrava qualquer insatisfação. Ao contrário, ao ser preso contou de sua “frustração por não haver seguido a carreira militar” e demonstrou “satisfação em ser recolhido naquela dependência policial militar”.

A análise sobre o comportamento de Pinto é completada pelo recorte do jornal Correio Brasiliense do dia 18 de março, que noticiou discurso feito na Câmara pelo deputado Freitas Nobre, do PMDB de São Paulo, que protestava pelo fato do colega ainda ter que se submeter a julgamento pelo STF mesmo após cumprir pena por criticar Pinochet.

Para a PM, o discurso coincidente com o protesto do preso, servia para “mobilizar forças parlamentares em seu favor e sensibilizar a opinião pública”, pois estaria ocorrendo “um esvaziamento em torno do nome de Chico Pinto”.



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