Pastel,
coxinha, banana real, esfiha, quibe, enroladinho, croquete. No mais, quase
sempre muita massa. Pão com recheio de carne, pão com recheio de frango, pão
com recheio de queijo e presunto, pão com recreio de linguiça calabresa, pão
com recheio de frango com catupiry. Fatias de pizza, há também fatias de pizza:
muçarela, quatro queijos, frango, calabresa, portuguesa.
Bebe-se:
sucos de polpa multicoloridos, refrescos, sucos artificiais multiprocessados, refrigerantes,
em lata, em garrafa plástica, em garrafa de vidro, suco de fruta no liquidificador,
até café e água de coco.
Painéis
multicoloridos, chamativos, convidam os potenciais clientes que vão passando. A
peça – um salgado – custa R$ 2. A peça mais um refrigerante, R$ 5. Três peças podem
sair por R$ 5 na promoção. Quem leva 30 peças conta com um desconto ainda mais bacana:
cada salgado sai por R$ 1,50.
Basta
circular pelo antigo centro comercial da Feira de Santana para se deparar com
essas ofertas. Ruas Conselheiro Franco, Monsenhor Tertuliano Carneiro, Sales
Barbosa, Marechal Deodoro, avenidas Senhor dos Passos e Getúlio Vargas, até nos
becos estreitos que conectam as vias centrais do centro pululam lanchonetes com
suas ofertas imperdíveis.
Na
lufa-lufa do dia a dia é possível enganar a fome com irrisórios R$ 5: dois
salgados miúdos, um copo de refresco. Muita gente lota os balcões estreitos,
metálicos, das lanchonetes. Outros compram e saem com o produto em sacolas
plásticas, em sacolas de papel.
As
lanchonetes avançam de forma avassaladora, muitos restaurantes sumiram do
centro feirense. Os que sobrevivem apostam no self service: dois pedaços
de carne, os demais alimentos à vontade por R$ 18, por R$ 20. Alguns – poucos –
sustentam preços até inferiores, 17 ou 16 reais, nunca menos de R$ 15. Quem
dispõe de pouco, portanto, nem hesita: devora os salgados, porque um prato de
comida custa mais que o triplo.
Porém,
quem não abdica do feijão com arroz, da carne, da salada e da farinha conta também
com as barracas. São dezenas, em espaços diversos, ainda não foram removidas do
centro feirense. Como atrativo, ao longo da semana oferecem os pratos gordurosos
que fazem a alegria dos glutões baianos.
O
centro feirense – no fundo, o centro antigo de qualquer grande cidade – vai mudando
sem cessar. Uns poucos anos, até alguns meses, trazem transformações marcantes.
A dimensão gastronômica é uma delas, mas não a única...
Em
Salvador, alguns candidatos a prefeito resolveram enveredar por um debate
canhestro, prometendo restabelecer antigas linhas de ônibus de roteiros longos,
intermináveis, que a partir das periferias remotas engarrafavam a capital
baiana. Pelo jeito, falta criatividade e boas ideias para o enfrentamento
contra Bruno Reis (União), candidato à reeleição.
Parece
que não notaram, mas Salvador evoluiu muito em termos de transporte público ao
longo da última década. Talvez seja a cidade brasileira que mais avançou no
período. Além das duas linhas do metrô, há o BRT já em funcionamento, com
previsão de expansão mais à frente. São obras da própria prefeitura e do
governo estadual, é bom lembrar.
Antigamente
o soteropolitano penava desde os bairros distantes até as regiões comerciais e
economicamente dinâmicas da cidade. A conexão ao sistema metroviário e ao BRT reduz
o tempo de deslocamento e garante mais agilidade nas viagens. Enfim, há mais
qualidade de vida. Não é perfeito, mas é muito melhor que aquilo que havia
antes.
Pois
os adversários do atual prefeito resolveram apostar na ideia controversa. Imagino
que não se deslocam de ônibus e – pior – não se dão ao trabalho de conversar
com quem se desloca. Senão, trariam propostas mais consistentes. Enfim, não há
debate público sobre as questões que inquietam os soteropolitanos.
Aqui
na Feira de Santana ainda não se chegou à fase de discussão de propostas para a
prefeitura. Também não se sabe se chegará. Há muito clichê, muita frase de
efeito, muita retórica. No máximo, propostas vazias, genéricas. Nada que
mobilize, nem entusiasme.
O
que se pensa, por exemplo, sobre o transporte público? Há quem veja o sistema daqui
como exemplar. Imagino que seja quem não utiliza os velhos ônibus que circulam
pelos malcuidados terminais feirenses. Quem utiliza, discorda. É só parar num
ponto qualquer e perguntar para quem está esperando.
Como
foi mencionado, Salvador experimentou um imenso salto qualitativo no sistema de
transporte público. Feira de Santana, por enquanto, espera chegar a sua vez.
Não, não é necessário nenhum metrô, aerotrem, nada de espetaculoso. Mas um
sistema de transporte eficiente, pontual, com roteiros racionais, veículos bem
conservados, sem superlotação, nem tarifas escorchantes.
Isso,
obviamente, depende de recursos dos governos estadual e federal. Exatamente
como aconteceu com Salvador. Feira de Santana é a maior cidade do interior da
Bahia, seus problemas urbanos ganham complexidade crescente, é preciso também mais
atenção com o eleitor local. Mas, na toada em que a campanha segue, nada mudará
nos próximos anos. Nem propostas há.
Arrematando
o texto, ouço o espocar de fogos lá fora, na direção da Queimadinha. O ritmo da
eleição é festivo, há selfies, comilanças e danças, as mídias sociais
fervilham. Mas proposta...
Foi na sexta-feira. Ele chegou ao restaurante
junto com os primeiros clientes. Ficou por ali, pela calçada, esperando
qualquer oferta. Tinha porte médio, pelos claros que começavam a ficar
encardidos. O que o distinguia dos demais cães de rua era uma garbosa
gravatinha azul.
- Esse cachorro tinha dono. Ainda está com uma
gravata – Lamentou o dono do restaurante, sem muita coragem para tangê-lo.
Não era apenas a gravata que o distinguia. Também
tinha modos delicados, de animal que conheceu o aconchego de um lar. Estendia a
pata, era dócil e tranquilo. As asperezas da vida na rua, a exposição aos maus-tratos
ainda não o tinham marcado em definitivo.
Só os pelos longos é que estavam manchados de
poeira e de lama. Infelizmente, conheço pouco do mundo canino e de suas raças.
Ignoro, portanto, qual era a sua raça, mas é dessas que fazem sucesso nos dias
atuais.
Fiquei pensando na dor do animal perdido – talvez
abandonado – exposto à rotina de maus-tratos das ruas, de violência. Pensei,
também, nos donos, que, talvez, estejam desesperados à sua procura. Quem sabe
se não há uma criança chorando sua perda? E ele vagando pela Boticário
Moncorvo, pela Comandante Almiro...
Um sujeito, condoído, depositou na calçada as
sobras do seu almoço. O cãozinho seguiu-o, dócil, a cauda balançado. Comeu e
ficou atento às mesas em volta, aquela oferta fora insuficiente para matar sua
fome.
Matutava sobre o triste destino do cachorro da
gravatinha azul. Mais um animal infeliz perdido pelas ruas da Feira de Santana.
Aquele tivera lar, alimento, carinho e atenções. Mas muitos outros – quantos
serão? – vagam pelas ruas da cidade, em sofridas marchas e contramarchas. Integram
matilhas, tornam-se hostis quando se sentem ameaçados.
Nem sei como terminar o texto. É costume cobrar do poder público, exigir soluções, inclusive, para os problemas que afligem animais domésticos. Mas a realidade desanima. Gente é morta a torto e a direito pela Feira de Santana e há quem comemore com efusão. Como cobrar atenção ou cuidado para um cão perdido pelas ruas feirenses, com sua gravatinha azul?
Fala-se muito de inclusão, atualmente. Informações
do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, trazem alguns detalhes sobre eleitores
com deficiência, aqui, na Feira de Santana. Os números, porém, são frágeis e
inconclusivos.
Conforme mencionado no texto
anterior, o município possui 426.887 eleitores cadastrados junto ao TSE. Neste
universo, como se sabe, cabe ampla diversidade, embora mal mapeada no
levantamento.
No total, há 3.451 eleitores com algum tipo de
deficiência na Feira de Santana. Deste total, 1.165 são identificados apenas
como “outros”. Não há, portanto, informações mais detalhadas sobre o tipo de
deficiência.
A deficiência mais mencionada é a de locomoção,
com 1.018 casos. Em seguida vem a visual, com 611 registros. Na sequência, há
335 casos de deficiência auditiva. Por fim, há 322 casos de “dificuldade para o
exercício do voto”, o que não traz muitos detalhes. Como se percebe, as
informações não são muito claras.
A mesma situação se verifica no que se refere à
identidade de gênero no eleitorado feirense. Segundo o levantamento do TSE,
402.479 pessoas não informaram com qual gênero se identificam.
Uma minoria, 21.445 eleitores, por sua vez,
informou a condição de cisgênero. Os transgêneros que se identificaram, por sua
vez, são 106 pessoas. Conforme mencionado, o baixo percentual de identificação
dificulta – até impossibilita – qualquer análise dos números.
O mesmo se aplica à população quilombola
feirense. Segundo os dados do TSE, somente 124 eleitores se identificaram como
quilombolas no levantamento. Outras 24.284 afirmaram que não são. As mesmas
402.479 do item anterior não especificaram sua situação no quesito.
Caso as informações sejam disponibilizadas com
maior grau de detalhamento, podem orientar estratégias eleitorais – ajudando no
diálogo entre candidatos e eleitores – mas, sobretudo, subsidiar políticas
públicas para segmentos específicos da população.
Hoje, fala-se bastante de focalização de políticas públicas, de avaliação. Informações bem debulhadas são essenciais para uma focalização mais precisa e para uma avaliação mais robusta. Tomara que, no futuro, essas informações estejam disponíveis para se traçar o perfil do eleitorado com mais precisão.
Faltam
menos de 60 dias para os eleitores feirenses – e brasileiros também – escolherem
prefeito e vereadores para o próximo quadriênio. Informações disponíveis no
site do Tribunal Superior Eleitoral, o TSE, permitem conhecer o eleitorado
local e traçar seu perfil. Para quem é candidato, ajuda a calibrar o discurso e
ajustar o foco da campanha.
As
informações indicam que, na Feira de Santana, estão cadastrados 426.887
eleitores. Deste total, há 235.096 pessoas do gênero feminino (55,07% do total)
e 191.790 do gênero masculino, o que corresponde a 44,93% da população. Há,
ainda, um caso de eleitor que não informou o gênero.
Quem
vota na Feira de Santana é gente predominantemente madura; 111,8 mil eleitores
estão na faixa etária dos 45 aos 59 anos; 97 mil estão entre 35 e 44 anos; Com
idade superior a 79 anos há, apenas, 9,1 mil eleitores.
Somente
506 eleitores têm 16 anos e cerca de 1,3 mil tem 17 anos. 17 mil têm entre 18 e
20 anos e 32,5 mil estão na faixa dos 21 aos 24 anos. Há quantidade maior
apenas na faixa subsequente (25 a 34 anos), com 87 mil pessoas. O eleitorado
feirense, hoje, é menos jovem do que já foi no passado.
No
que se refere à cor/raça, há uma grande lacuna nos números. Nada menos que 402
mil eleitores (94,28%) não estão identificados neste critério. Pardos são 13,7
mil, pretos são 7,3 mil e brancos 3,1 mil. Informações insuficientes, portanto,
para se definir o perfil da população por sua cor/raça.
Com
relação à escolaridade, a situação já foi pior. O número de eleitores
analfabetos soma 9,2 mil pessoas (2,17% do total). Aqueles com ensino superior
completo, por outro lado, vem crescendo ao longo do tempo e já representam 10,13%
do eleitorado, ou 43,2 mil pessoas. O que prevalece, porém, são aqueles com
ensino médio completo (150,7 mil), o que equivale a 35,31% da população.
Um
quinto do eleitorado feirense (19,22%), porém, dispõe só do ensino fundamental
incompleto. São 82 mil pessoas, muita gente. Outras 26,2 mil pessoas não
passaram pela alfabetização formal, mas leem e escrevem. Não são números que
entusiasmem, mas é necessário ressaltar que a situação já foi bem pior.
Disponíveis para consulta no site do TSE há inúmeras outras informações. Alvo de incontáveis ataques de ensandecidos da extrema-direita, o sistema eleitoral brasileiro vem evoluindo a cada eleição e o expressivo volume de informações disponível reforça a transparência e fortalece a democracia neste País.