Motociclistas avançando pela contramão, motociclistas trafegando sobre as calçadas, motociclistas estacionados sobre as faixas de pedestre, motociclistas desassombrados ignorando os sinais vermelhos, motociclistas aventurando-se em ultrapassagens pela direita. Exasperados, muitos motoristas comentam:
- Quem dirige em Feira de Santana dirige em qualquer lugar do mundo!
Motociclistas também conduzem mercadorias na garupa das motos. Caixas de papelão, sacolas plásticas com compras, malas, esquadrias, até portas de guarda-roupa e escapamento de automóveis.
É comum gente sem capacete na garupa, o que inclui crianças pequenas. Condutores sem capacete também são comuns, sobretudo nos bairros periféricos, em que a fiscalização é mais frouxa. O combo composto por dois adultos e uma criança pequena espremida no meio também se vê sem muito esforço.
Para piorar tudo, há o crescimento exponencial de motocicletas aqui na Feira de Santana. Eram 20,4 mil no remoto ano de 2006. Saltaram para pouco mais de 89 mil em 2022, ano do levantamento mais recente. Impressionantes 436% de crescimento. Os dados estão disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE.
Cresceu também o número de motonetas circulando pelo município. Eram 4,9 mil em 2006 e alcançaram 26,6 mil em 2022. O crescimento foi de 542,8% no intervalo. A frota total experimentou elevação percentual mais modesta: foi de 97,7 mil em 2006 para 327,2 mil no último levantamento. Um aumento de 334,9%.
Frota crescente, pouca fiscalização e nenhuma educação no trânsito só podem produzir o cenário caótico que se vê por aí. Obviamente, motoristas, ciclistas e os próprios pedestres também contribuem para o caos. Mas discutir tudo isso exige textos e mais textos, como qualquer feirense pode deduzir...
O noticiário já prioriza o Carnaval que se aproxima. Este está bem perto, aliás: começa na próxima semana. Acabou janeiro, mas a proximidade dos festejos momescos mantém aqui na Feira de Santana um clima de férias ainda. Claro que existe uma retomada, mais movimento, mas aquela agitação habitual não se vê por aí. Ficou para depois do Carnaval, que este ano é no começo de fevereiro.
O ano político é que já começou. Bem precocemente, aliás. Pré-candidatos definem chapas Brasil afora e cenários eleitorais se delineiam. Na Feira de Santana, como todo mundo sabe, permanecem dúvidas que só serão sanadas mais à frente. Mas, mesmo assim, há burburinho, comentários pelas esquinas, polêmicas, apostas, expectativas.
Apesar do foco no cenário feirense, vira e mexe um assunto nacional atrai a atenção aos comentaristas locais. As sucessivas polêmicas da família de Jair Bolsonaro, o “mito”, por exemplo, chamam a atenção. Há, como sempre, defensores apaixonados contrapondo-se a adversários ferrenhos.
Mas algumas indagações sempre escapam dos analistas políticos locais. As investigações sobre a “Abin paralela”, por exemplo, revelaram até aqui que um número ainda indeterminados de pessoas – noticiou-se até 30 mil – foi monitorado pelo presumido esquema de espionagem.
Políticos, juristas e jornalistas – entre outros – figuram na lista que ainda não foi inteiramente revelada. Será que alguém aqui da Feira de Santana foi monitorado? Quantas pessoas? Quais os nomes? Eis um assunto interessante para apimentar as conversas enquanto se espera o Carnaval.
Mas, por enquanto, o assunto rende pouco ali no agitado beco da Câmara Municipal, no escaldante estacionamento do Paço Municipal, nos corredores do Mercado de Arte Popular e nos galpões do Centro de Abastecimento. É provável que só ganhe atenção quando a lista, na íntegra, vier à tona...
O ônibus da extinta empresa Autosel (não sei se a grafia era essa!) quebrou bem no sopé da ladeira do Nagé. O motor estremeceu, emitiu um ronco rouco e parou. Os passageiros se entreolharam na tarde nublada, desanimados. O motorista saltou do seu assento com um pulo ágil e abriu a tampa do motor.
- Vamos andando mesmo! - Sugeri, do alto dos meus oito anos.
- Tem que subir a ladeira! Quer ir andando mesmo? - Indagou meu pai, também impaciente com o ônibus parado.
- Vamos! - Reforcei, resoluto, feito adulto precoce. Íamos à Sales Barbosa, à Marechal.
A ladeira era mais silenciosa e menos comercial. O trânsito era nos dois sentidos, veículos subiam e desciam, no contido vaivém da época. Inclinei o corpo feito tabaréu e começamos a subir. Foi quando o motor do ônibus, num espasmo ruidoso, começou a funcionar.
- ÊÊÊÊÊÊ !!! - celebraram os passageiros. Alguns estavam na calçada, outros continuavam dentro do veículo.
Hesitamos por um instante. Mas o motor parou de novo.
- AAAAAAAhhhhhhh !!! - Lamentaram os passageiros.
Então seguimos. Que eu lembre, foi a primeira vez que subi a ladeira do Nagé andando. Isso nos idos de 1983, por aí. Naquela época a via era residencial, de comércio havia só uma antiga venda - com balcão de madeira e prateleiras repletas de produtos - numa esquina bem no sopé. Mais à frente, uma lanchonete que segue lanchonete até hoje.
As antigas residências eram amplas, fachadas sisudas, condizentes com a cidade comercial em expansão. Lembro também de pensões e pensionatos, que se irradiavam desde a Froes da Motta. Ao longo dos anos, fui acompanhando as lentas transformações.
Surgiram pequenos comércios, um ou outro escritório ou clínica. Aos poucos, os antigos moradores foram se mudando ou morrendo, as residências demolidas, dando lugar ao comércio, aos serviços automotivos. Oficinas, lojas de autopeças, lava-jato e borracharias foram surgindo, numa transição que ainda não se completou.
Assim, a Ladeira do Nagé passou a orbitar em torno do intenso comércio de autopeças da Rua de Aurora e do Minadouro. É atividade ainda em expansão, vai avançando até pela Voluntários da Pátria, em direção ao Sobradinho.
Daquele Nagé que galguei com pernas curtas na infância, restam só as lembranças, que ressurgem toda vez que passo por lá.
Ao contrário da Feira de Santana, o cenário eleitoral em Salvador está praticamente definido. O prefeito Bruno Reis (União), é pré-candidato à reeleição e larga com inegável favoritismo. Depois de muita delonga, a oposição decidiu que o vice-governador, Geraldo Júnior (MDB), será o candidato do grupo capitaneado pelo PT. Correndo por fora há o PSOL, com Kléber Rosa, que aposta no voto da esquerda insatisfeita com a indicação do vice-governador.
Em entrevista a uma emissora de rádio da capital, o presidente Lula (PT) não garantiu que vá fazer campanha ostensiva para Geraldo Júnior. A razão é bem objetiva: o partido do prefeito Bruno Reis, o União Brasil, conta com três ministérios. Para não desarrumar sua base e manter sua complexa governabilidade, Lula não vai meter a mão na cumbuca soteropolitana.
E na Feira de Santana? O deputado federal Zé Neto (PT) é o pré-candidato da base petista e já investe na ideia de que, caso seja eleito prefeito, vai governar em parceria com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) e, obviamente, com o próprio Lula. A estratégia não é novidade e foi utilizada em eleições anteriores.
Tudo indica que seu principal adversário será o ex-prefeito José Ronaldo (União). Publicamente, este não se declarou pré-candidato ainda. Mas percorre o município com agenda cheia desde o ano passado. Caso prevaleça nas urnas, José Ronaldo chegará ao Paço Municipal pela quinta vez.
O cenário para ele, porém, é mais adverso do que já foi no passado. No seu grupo político há, pelo menos, uma pré-candidatura anunciada até aqui, a do deputado estadual Pablo Roberto (PSDB). Há quem aposte que o parlamentar vai recuar, mas, por enquanto, ele garante que disputará o pleito e mantém agenda intensa pelo município.
Inesperada - até certo ponto - é a pré-candidatura do deputado federal Capitão Alden (PL). De olho em 2026, o PL pretende manter-se em evidência em boa parte dos municípios brasileiros, lançando candidatos a prefeito. É o caso da Feira de Santana. A iniciativa compõe a estratégia do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.
Caso sejam mantidas, essas candidaturas podem captar votos de José Ronaldo e provocar, novamente, um segundo turno, como ocorreu em 2020. Note-se que, nas quatro eleições que venceu, o ex-prefeito liquidou a fatura logo no primeiro turno. Em tese, mais candidaturas à direita favorecem o deputado federal Zé Neto.
José Ronaldo, porém, tem alguns trunfos. Um deles é a própria participação de seu partido no governo Lula. Se a regra do distanciamento de Lula vale para Bruno Reis, não valeria também para ele? Outra é que grudar nele o rótulo de bolsonarista não faz muito sentido já que, até agora, o PL tem candidatura própria no município, o Capitão Alden.
Enfim, o jogo está só no começo. Aliás, começou de maneira até precoce, porque as conversas que já estão ocorrendo costumam se intensificar só depois do Carnaval. Em parte, isso se deve ao clima de eleição permanente no qual o país mergulhou.
Há pouco acompanhei a final da Copa São Paulo, aquela competição de futebol que reúne atletas jovens do Brasil inteiro. Mais uma vez o Corinthians foi campeão, com a torcida protagonizando um belo espetáculo no "Itaquerão". Bateu o Cruzeiro com um golaço no fim do jogo, adicionando o 11º título à sua galeria.
O perfil da torcida chamou atenção: majoritariamente gente preta e parda, essa que pega metrô, que frequenta os centros de comércio popular e que mora na periferia. Enfim, o povo. Pelo menos hoje saiu de cena a torcida endinheirada - e, quase sempre, branca - que, atualmente, frequenta os estádios brasileiros.
Não estou aqui para fazer a notícia do título corintiano, mas sim para confessar uma coisa. Ultimamente, não entendo bulhufas do que os comentaristas comentam. Acompanhei a transmissão pela internet. A equipe, com palavrório bonito, deixou-me constrangido com minha ignorância.
Até julgo que fiz uma leitura correta da partida. O Cruzeiro foi melhor, sobretudo no meio-campo. Criou as melhores jogadas, apresentou maior volume de jogo, mas não converteu sua superioridade em gols. O Corinthians foi lá - com sua conhecida mística - e fez um golaço no fim do jogo.
Não sei se os comentários convergiram com minha leitura - até fui editor de esportes no extinto Feira Hoje - mas ouvi expressões absolutamente enigmáticas. "Inversão de corredor", "atacar a última linha", "flutuação" e "gerar jogo" foram algumas dos termos intraduzíveis para minha ignorância.
Quem diria: o futebol virou coisa de acadêmicos, de gente letrada. Mas parece, mesmo, que o vocabulário do mundo corporativo - com seu ranço de autoajuda embutido - seja a grande sensação do futebol hoje.
Modismos são comuns no esporte, mas de qualquer jeito parece que a turma anda exagerando. Engraçado é que boa parte dos acadêmicos da bola, pelo visto, nunca jogou futebol. Noto que não conseguem explicar, tecnicamente, porque um jogador acertou um chute ou errou um lance qualquer. Peladeiros experientes costumam explicar com clareza e palavras simples.
O futebol vem se tornando, cada vez mais, um grande negócio. Imagino que esse academicismo faça parte do invólucro do produto. Aquelas expressões antigas, de torcedores e boleiros da velha guarda, não devem soar bem mesmo explicando tudo e traduzindo bem para quem acompanha futebol.
É isso aí. Em nome do dinheiro, o vocabulário do boleiro tem que ser banido do futebol, assim como a gente preta e parda da periferia que já não pode frequentar as arquibancadas dos estádios. Hoje, na final da Copa São Paulo, houve uma grata exceção...