Um dos prédios mais imponentes da Feira de Santana é aquele que abriga a Prefeitura Municipal. Fica num dos mais emblemáticos cruzamentos da cidade, entre as avenidas Getúlio Vargas e Senhor dos Passos. Naquele trecho muito da vida política e cultural da cidade ganha expressão: feiras – de livros, de saúde -, apresentações musicais, atividades de lazer e, sobretudo, manifestações políticas acontecem defronte à prefeitura, no estacionamento encoberto pelas sombras generosas das árvores.
O prédio começou a ser erguido há quase 100 anos: no dia 11 de setembro de 1920 o Conselho – a versão da época da Câmara Municipal – autorizou a construção da nova sede da prefeitura. Não demorou para a pedra fundamental ser lançada, já no ano seguinte. Foi sob a gestão do intendente Bernardino Bahia, com o engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumindo a responsabilidade técnica.
Demorou seis anos para a obra ser concluída: em 1926, já sob a intendência de Arnold Ferreira da Silva – cargo equivalente ao de prefeito nos dias de hoje – aconteceu a conclusão formal, no mês de abril. Na construção, foram desembolsados 400 contos de réis. É o que informa o historiador Rollie Poppino, no clássico “Feira de Santana”.
O prédio da Prefeitura Municipal é patrimônio e tombado pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, o IPAC. Em um interessantíssimo catálogo da instituição, descreve-se a edificação: “Construída no primeiro quartel do século XX apresentando planta regular, desenvolvida em dois pavimentos e recoberta por telhado de quatro águas”.
A afamada galeria dos ex-prefeitos também é objeto de referência: “O salão conta, ainda, com uma coleção dos quadros dos ex-prefeitos, com destaque para o 1º mandatário, pintado em tamanho natural”. Por fim, há a alusão à famosa escada: “Merece também menção uma das escadas em madeira, em formato de “S”, com balaústres do guarda-corpo no mesmo material”.
Interesse arquitetônico
O documento define o prédio como de “relevante interesse arquitetônico” e descreve sua estrutura externa: “Em suas fachadas, com um dos cantos arredondados e de rica modenatura (...) destaca-se, no primeiro andar, uma sacada corrida em toda a sua extensão, além da platibanda cega, com motivos neoclássicos”. No interior, há referência ao Salão Nobre: “destaca-se a decoração com escaiola nas paredes, medalhões em estuque sobre o vão das portas”.
Pelo que revela o IPAC, a construção segue o modelo simplificado do padrão colonial, aplicado pela primeira vez em Jaguaripe, em 1697. Posteriormente, o modelo foi sendo replicado em lugares diversos da Bahia: São Francisco do Conde, Rio de Contas, Porto Seguro, Caetité, Inhambupe, Condeúba e Paratinga. Já o “vestíbulo central de distribuição do 2º piso pode ser observado também nas sedes municipais de Serrinha e Senhor do Bonfim”, conforme descreve a obra.
Houve reforma recente na sede da prefeitura, mas o catálogo do IPAC registra intervenções anteriores: rebaixamento do forro em algumas salas, mas mantendo-se o original; construção de um mezanino em madeira, no andar térreo; instalação de divisórias e aplicação de carpete e paviflex em várias salas, sobre o assoalho. No documento, atualizado em 2001, não se soube precisar quando aconteceram essas intervenções.
Há, também, uma cuidadosa descrição das cercanias da prefeitura: “A Getúlio Vargas é uma ampla avenida, com canteiro central, onde se encontram algumas árvores de médio e pequeno porte”. Nas imediações, há “uma igreja recente, de estilo neogótico tardio” e, logo à frente, “o sobrado da antiga intendência, com o andar térreo já descaracterizado pelo uso comercial”.
A Prefeitura Municipal é prédio tombado em nível estadual. Pode ser considerado, no leque das edificações erguidas na Feira de Santana nas primeiras décadas do século passado, como um dos mais bem preservados até os dias atuais.
O Brasil voltou a flertar com a desaceleração econômica. É o que sinaliza a prévia do Produto Interno Bruto – PIB divulgada pelo Banco Central, o BC, essa semana. Março foi um mês desfavorável: a queda, em relação ao mês anterior, fevereiro, foi de 0,74% e, na comparação com o mesmo mês de 2017, o declínio foi menos intenso: 0,66%. Analistas estimavam retração bem mais modesta: apenas 0,1%. Isso vai impactar sobre a mesma prévia do PIB: queda de 0,13% em relação ao trimestre anterior.
A divulgação dos números levou os analistas a refazerem seus cálculos sobre o PIB de 2018. Antes, as projeções apontavam para um crescimento em torno de 3%. Depois da divulgação dos dados nada alvissareiros referentes ao primeiro trimestre, a expectativa caiu para algo perto de 2,5%. Diversos fatores ajudam a explicar essa retração.
Sob a perspectiva estritamente econômica, o desemprego elevado impede o aquecimento da demanda interna, freando a retomada. Os juros caíram, mas, sem trabalho, o brasileiro não se anima a consumir. A informalidade, a compressão salarial – inclusive no setor público – e as incertezas decorrentes da tresloucada reforma trabalhista, que desestimulam as contratações, são explicações adicionais.
A variável psicológica – as expectativas – seguramente influi nos indicadores. É que, acossado pelo renitente noticiário sobre o descalabro econômico há anos, o cidadão teme comprometer a poupança módica, ou enredar-se em dívidas. E, pelo que enxerga no noticiário, o futuro segue pouco promissor. Salvo, é claro, na propaganda oficial.
Eleições
Outro fator de instabilidade são as eleições presidenciais. Até aqui, a sucessão oferece um empolgante roteiro cinematográfico: dezenas de candidaturas, o líder nas pesquisas condenado e preso, o segundo colocado entusiasta do regime militar e dezenas de legendas barganhando, mercadejando, farejando o melhor negócio. O que menos se ouve são propostas para remover o país do atoleiro.
O que pensam os candidatos sobre a reforma da Previdência? Os doidivanas que defendem o “Estado mínimo” tem alguma proposta de reforma? Ou vão tocar o governo com o mesmo modus operandi de Michel Temer, o mandatário de Tietê? E o descalabro fiscal? Como, quando e de que forma será feito o ajuste? Se existem respostas a essas questões, seguem guardadas em completo sigilo.
Enquanto isso o brasileiro se vira: torna-se microempresário – eufemismo para camelô ou ambulante –, garante o dinheiro do pão fazendo biscate, arranja emprego com salário mais baixo ou amarga seu infortúnio entregando currículo, comparecendo a entrevista, esperando nas filas dos serviços de intermediação de mão de obra.
Empolgante, hoje, só a propaganda do governo, os anúncios oficiais, as solenidades nas quais se descrevem futuros radiosos, os números controversos compilados em textos entusiasmados. A prévia do PIB, porém, está aí, desmentindo a conversa fiada, a empulhação persistente. Não há dúvidas que a economia cambaleia e que os discursos são incapazes de sustentá-la de pé, mantê-la ereta.
O fato é que os desafios para a retomada da economia seguem colocados.
Sábado passado (12) o sol irradiava uma luz festiva, puríssima, sob um céu de azul indevassável nas cercanias do Bessa e de Amélia Rodrigues. Foi uma dessas manhãs típicas de maio, com o sol caricioso e o dia resplandecendo num espetáculo de cores. Nela, o viajante que trafegava pela BR 324 pôde se extasiar com os infinitos tons de verde do capim viçoso, dos resquícios de Mata Atlântica que se encarapitam pelos morros e das árvores frutíferas – manga, jaca, coco e caju – que ornam a margem da pista.
Mas, por ali, o que chama muito a atenção são os caprichados cultivos de hortaliças. Alface, cebolinha, coentro, couve e salsa crescem – num verde vívido – em covas bem cuidadas e umedecidas pelas chuvas que caem com frequência desde abril.
É comum se deparar com um trabalhador em sua faina: colhendo hortaliças muito tenras nos inícios de manhã, regando quando as chuvas escasseiam ou cavoucando a terra preparando novas covas que, lá adiante, vão desabrochar numa maravilhosa demonstração de fartura.
O trecho de cultivo intenso é curto ao longo da BR 324 que margeia o Bessa e Amélia Rodrigues. Limita-se a essas duas localidades, mas se expande também em direção a Conceição do Jacuípe – cuja plantação é afamada – e na direção de Oliveira dos Campinhos, às margens da BA 084, no caminho entre a Feira de Santana e Santo Amaro.
Chuvosa, com terra fértil e relativamente próxima a alguns dos maiores centros urbanos da Bahia – Salvador, Feira de Santana, Alagoinhas, Cruz das Almas e Santo Antônio de Jesus não ficam distantes –, aquela região poderia suprir mais facilmente esses mercados com seus produtos, impulsionando uma virtuosa cadeia produtiva.
Desde que os portugueses se consolidaram no Brasil que o entorno da Baía de Todos os Santos assumiu função estratégica na geração de riquezas. Primeiro com a cana-de-açúcar, especiaria que os lusitanos distribuíam pela Europa com lucros expressivos. Essa fase originou um ciclo econômico – o primeiro da nova colônia – e ajudou na ocupação da faixa litorânea do Nordeste.
Milton Santos
Por aqui, depois, veio o cultivo do fumo. Nunca assumiu a importância da cana-de-açúcar, mas contribuiu para um incipiente processo de implantação de unidades industriais da Bahia, por volta do século XIX. O produto se tornou uma das principais commodities produzidas em solo baiano, antecedendo a onda febril do cacau, que se expandiu mais ao Sul.
Esses usos do fértil e cobiçado solo do Recôncavo produziram o latifúndio e a monocultura. Ao longo do século XX – sobretudo a partir da segunda metade – surgiram propostas de redesenhar o mapa produtivo da região, transformando a estrutura fundiária e incentivando a produção de alimentos. Essa guinada ampararia um objetivo estratégico: contribuir com a industrialização de Salvador e seu entorno.
Produzindo alimentos baratos – com produtividade elevada e condições de escoamento mais favoráveis – seria possível ofertá-los com preços mais baixos na capital, reduzindo o custo da mão de obra urbana. Isso iria favorecer a implantação de indústrias em Salvador e nas cercanias, diversificando a economia baiana e dinamizando-a.
O geógrafo Milton Santos – grande pensador da realidade baiana no início de carreira, nos anos 1950 – foi um dos entusiastas da ideia, defendendo-a em algumas publicações. Desde então, porém, nenhum governo abraçou a proposta, que foi sendo esquecida em livros e relatórios técnicos elaborados à época.
O cultivo de hortaliças que se dissemina em pequenas propriedades mostra que a ideia permanece viva e atual. Mas seria necessário o impulso estatal, na forma de um plano de desenvolvimento que estabelecesse linhas de intervenção, ofertando crédito, qualificação, infraestrutura logística – bem ou mal, já existente – e, o que é mais arrojado, uma política de reordenamento fundiário.
Mas vivem-se tempos ásperos. A barganha, o acerto de balcão – única mediação possível no falido sistema político brasileiro – e a crença ingênua na perfeição do “deus mercado” inibem iniciativas arrojadas desse naipe. Uma pena, pois uma rica porção do território baiano segue subaproveitada e o baiano nas grandes cidades paga caro pelo alimento que leva à mesa.
A Praça Dom Pedro II – mais conhecida como Praça do Nordestino – é um dos espaços mais emblemáticos da Feira de Santana. Mais pelo que já representou no passado que, propriamente, pelo que significa no presente. O espaço margeia a engarrafada avenida Senhor dos Passos e fica muito próxima da rua Sales Barbosa, efervescente centro de comércio popular do município. É relíquia dos primeiros impulsos da expansão urbana, quando a cidade se desgarrava das cercanias da Praça da Matriz, espichando-se.
Nas décadas de 1980/1990 e no início dos anos 2000 o Nordestino era um dos principais destinos de quem transitava de ônibus pela Feira de Santana. Até os anos 1980, na Senhor dos Passos, os carros circulavam em mão dupla – aqueles blocos de concreto apelidados de “gelo baiano” separavam as duas faixas – e a circulação de pessoas por ali jáera grande.
Não havia Feiraguai, o comércio não se expandira tanto em direção à Getúlio Vargas, tampouco haviam surgido os shoppings e centros comerciais: tudo isso fazia com que o feirense – e os eventuais visitantes – concentrassem o desembarqueno Nordestino, já que o centro de compras era menos extenso. Abrigava-o, sobretudo, a Sales Barbosa, a Conselheiro Franco e as estreitas artérias próximas.
A demora ali era longa: os ônibus paravam no terminal e iam descendo homens, mulheres, crianças, idosos. Mais tarde, embarcavam com embrulhos, com utensílios domésticos, em demorados movimentos. Eram muitos ônibus: todos faziam um circuito pelo centro da cidade (o “Circular”) e havia roteiros específicos – o “Direta” – que só iam até o Nordestino. Praticamente todos passavam pela praça.
Pontos de Parada
Naquela época ainda não havia acontecido areforma que substituiu o calçamento de paralelepípedos azulados por placas de concreto. E quem esperava condução não contava com abrigos. As dezenas de linhas distribuíam-se por quatropontos de parada. Apesar da habitual demora, as viagens eram mais rápidas, porque a frota em circulação era muito menor e o trânsito, fluido.
As calçadas permitiam o trânsito livre, já que o País apenas ingressava na era feroz da economia estagnada, o que levou muita gente a ocupar os espaços públicos como camelôs e ambulantes para garantir o ganha-pão. A população feirense, inclusive, era muito menor: somente em 1990 se alcançou a marca dos 409 mil habitantes, conforme contabilidade do IBGE.
O comércio também era mais dinâmico naquelas cercanias: ambiente de circulação de milhares de feirenses todos os dias, as lojas registravam frequência, a freguesia aproveitava para examinar produtos, comprar pão numa padaria que funcionava ali, visitar um antigo supermercado já fechado, conferir preços nas sapatarias próximas.
Desolação
Hoje uns poucos ônibus despejam passageiros naqueles abrigos mal conservados: praticamente todas as linhas foram desviadas, circulando pela Senhor dos Passos ou nem passando mais por ali. O Nordestino, portanto, perdeu sua função natural e hoje a praça padece sem os atrativos do passado. O comércio local, obviamente, sofre os efeitos, esvaziando-se.
Restam motoristas e mototaxistas que aguardam passageiros eventuais no estacionamento. Pardais piam animadamente nas árvores escassas. E dezenas de barracas oferecem produtos que se encaixam nos bolsos dos frequentadores mais modestos. Aos sábados, o ambiente fervilha com gente bebendo, comendo e conversando.
Placas anunciam cuscuz com ensopado; o colorido de uma marca de aguardente pintado nas barracas evidencia o patrocínio;há quem passe e adquira cigarro a retalho; quem bebe cachaça mastiga passarinha ou morde um pedaço de moela. No início do verão cajus amarelos repousam sobre os balcões metálicos. Há quem asse pedaços de carne em fogareiros metálicos.
Tráfego
O dinamismo do transporte público se deslocou para o Terminal Central, ali nas imediações do Centro de Abastecimento, contribuindo para esvaziar ainda mais o espaço. Muita gente aguarda no Nordestino a condução para fazer a baldeação por lá. Outros embarcam mais adiante, na praça Bernardino Bahia, o que contribuiu para reduzir ainda mais o fluxo pelo Nordestino.
Para quem viveu aqueles tempos, restam as lembranças que vão se apagando na memória, da cidade mais simples e mais hospitaleira. E a desolação por ver a praça, hoje, sem uma função, subutilizada. Quem chegou depois fica com a impressão desagradável da praça suja, feia, malconservada, com suas calçadas esburacadaseo lixo que se acumulanos finais de semana.
É evidente que não tem mais sentido resgatar o passado remoto que se refugia, impreciso, na memória. Mas é patente que a Praça Dom Pedro II – o nome é imponente –, o popular Nordestino, precisa de uma intervenção para revitalizá-la, atribuir-lhe um novo sentido, torná-la agradável para os feirenses. Fica a expectativa em relação à iniciativa.
Existem muitas formas de analisaro impacto da violência sobre a sociedade. Uma delas, pouco empregada aqui na Feira de Santana, é a comparação do número de homens e mulheres, distribuídos por faixa etária. Dados do Censo 2010 do IBGE fornecem algumas pistas interessantes. É claro que as causas de morte são múltiplas, mas a violência vai produzindo anomalias que não podem ser desconsideradas.
Dados do referido censo informam que, em 2010, havia 20,7 mil meninos e 20,2 mil meninas com idade entre zero e quatro anos. Na faixa dos cinco aos nove anos os meninos seguiam à frente: 22,7 mil contra 21,7 mil, assim como na faixa etária posterior, mas com diferença menor: 24,6 mil para eles e 24,1 mil para elas.
A inversão começa exatamente naquela delicada faixa etária dos 15 aos 19 anos, quando se passa da adolescência à vida adulta: elas eram 25,4 mil, enquanto eles eram 24,7 mil. Na faixa etária posterior – 20 aos 24 anos – a diferença se mantém, mas com distância crescente: os homens somavam 26,2 mil e as mulheres 28,7 mil.
A violência costuma ser a explicação comum para essa inversão na proporção entre os dois sexos. Os jovens estão menos expostos às doenças que costumam provocar a morte da população mais velha; e não existem explicações naturais para os óbitos masculinos se acumularem, enquanto a população feminina permanece quase constante.
Homicídios
Uma das causas da morte precoce está nos acidentes de trânsito. Mais afoitos, mais destemidos e com acesso mais amplo a veículos automotores – até por questões culturais – os homens morrem mais que as mulheres em batidas e colisões. A causa principal das mortes masculinas, porém, é demasiado conhecida: os homicídios.
Ano passado, de acordo com o competente levantamento dos radialistas feirenses, morreram 369 pessoas, vítimas de homicídios, latrocínios e nos famigerados “autos de resistência”. Desse total, 27 eram mulheres, o que corresponde a bem menos que 10% do total.
Outro exemplo ilustrativo, mais recente: no primeiro trimestre de 2018 a espiral de homicídios e latrocínios ceifou 107 vidas. Dessas, oito envolveram mulheres, novamente menos de 10%. Nem é necessário cansar o leitor com pilhas de estatísticas: é patente que o homicídio alcança, sobretudo, os homens, particularmente aqueles que vivem a delicada transição da adolescência para a vida adulta.
Perspectivas
A “geografia da morte” ajuda a refinar a análise, facilita o recorte social: quem morre costuma ser alvejado na periferia – Aviário, George Américo e Campo Limpo figuram entre os bairros mais violentos – ou nos bolsões de pobreza encravados no perímetro do Anel de Contorno, como a Queimadinha, a Rua Nova ou as Baraúnas. Como triste novidade, estão os crimes que se avolumam nos conjuntos habitacionais populares construídos nos últimos anos.
De um lado, essa gente frequenta péssimas escolas, vive enfurnada em regiões insalubres, sem saneamento ou condições adequadas de habitação; por outro, está exposta à influência das facções criminosas, que vão crescendo e incorporando novos adeptos dia após dia. Há, aí, uma combinação perversa que oferece poucas alternativas.
Apesar do cotidiano sangrento, no Brasil só se fala em ampliar a repressão, liberar a venda de armas, matar mais. Quem serão os alvos preferenciais? Os jovens negros, residentes nas periferias, pouco escolarizados, que não trabalham e que, segundo a versão recorrente, têm ligação com a criminalidade, sobretudo o tráfico de drogas.
A guerra velada – mas que acumula cadáveres em escala genocida – pode se tornar um combate mais ostensivo, com ações sistemáticas. Inclusão social, hoje, é expressão banida do vocabulário do debate público.