Na famosa batalha das Termópilas, por volta de 480 a.C., durante as chamadas Guerras Médicas, entre gregos e persas, ficou famosa a resistência de Leônidas, com seus 300 soldados de Esparta, que lutaram no famoso desfiladeiro.
Um dos mensageiros de Xerxes, rei da Pérsia, teria tentado amedrontar os gregos, dizendo que havia tantos arqueiros e lanceiros no exército persa, que quando eles disparassem suas flechas e lanças, elas iriam “cobrir o Sol”. Ao que o Rei Leônidas teria respondido: “melhor, combateremos à sombra”. Como sabem, Leônidas foi traído e os 300 morreram, mas inspiraram um filme, em Hollywood. O número 300 e a heroica resistência de Leônidas tornaram-se lendas e inspiração.
O mundo enfrenta uma batalha tão assustadora quanto aquela, mais universal. E estamos sendo traídos, da mesma forma que os espartanos, pelos que não fazem distanciamento social; pelos que fraudam as verbas destinadas ao combate à pandemia; pelos que politizam uma resposta à pandemia, que deveria ser científica; pelos que não demonstram empatia pelas vítimas e não contribuem, em seus atos e discursos, para minorar a dor, alimentar a esperança e tornar a travessia uma possibilidade mais segura.
A campanha política, com suas aglomerações, comemorações, desfiles de artistas, liberações de atividades, começa a cobrar seu preço. Ontem, em Feira, tivemos 300 casos. A segunda onda chegou com mais força e de forma mais dramática e violenta. A rede de saúde privada já está lotada e a rede pública já está no limiar final. Veremos cenas que não gostaríamos de ver...
Ela chega após a flexibilização das medidas de contenção. Exatos quinze dias após o final de uma absurda campanha política. O inimigo rompeu as defesas e ataca as vítimas no momento em que todos já estão exauridos.
No Brasil, os mortos já são tantos como as flechas de Xerxes, mas não haverá sombra para esse combate.
As ações de criminosos, organizados em bandos fortemente armados, cercando e dominando cidades, como a rica Criciúma (SC), para realizar assaltos é um atestado cabal e absoluto de fracasso dos governos – todos os governos –, no combate à criminalidade organizada.
O Brasil está ficando sitiado pelo crime. Os criminosos tiveram sua vida facilitada pela leniência, corrupção judicial, vitimização dos criminosos e progressão de pena, que mostram que a resposta da lei está aquém da necessidade.
Apenas Sergio Moro, quando estava no Ministério da Justiça, começou a enfrentar a criminalidade organizada, aprovando uma lei para confiscar bens, fazendo um banco de DNA, com a finalidade de facilitar a identificação de criminosos, e mudando chefes de facções de prisões, para quebrar a cadeia de comando.
Não durou muito, como sabemos, e o governo que restou não mostra nenhum plano nacional de combate ao crime organizado, limitando-se à ação e reação.
Para um fracasso, é o bastante; para o que o Brasil precisa, é um fracasso.
Apesar dos 9,1% do PIB investidos em Saúde, há um claro subfinanciamento do setor, com uma aplicação per capita menor do que nos países vizinhos. Um exemplo é o setor de hemodiálise, cujas máquinas são todas importadas, assim como boa parte dos insumos. Sem reajuste na tabela SUS há quatro anos, diversas clínicas têm fechado as portas e criado dívidas, enquanto esperam a melhoria do setor. Ou têm se tornado presa fácil para as multinacionais, que já são responsáveis por quase 30% do tratamento dialítico, no Brasil, uma vez que têm moedas fortes e são produtoras de equipamentos e materiais, fechando um ciclo de domínio do setor.
O Brasil precisa investir mais em Saúde, um item fundamental para garantir o desenvolvimento, na próxima década – como está nos ensinando a pandemia –, e garantir melhor atendimento à população.
Dentro dessa otimização, é preciso que haja menos desvios – e parece que roubar, na Saúde, virou um esporte nacional – e que os recursos sejam aplicados com mais efetividade e sem desperdícios. Uma das formas mais comuns de gastos é a repetição de investigações de doenças, sem necessidade. Como, em cada atendimento ou internamento, não temos o histórico do paciente, é muito comum que ele repita, diversas vezes, a mesma investigação.
Não é compreensível que, tendo em vista o atual estágio de desenvolvimento tecnológico, não tenhamos um prontuário eletrônico acessível em qualquer rede de Saúde – municipal, estadual ou federal –, para facilitar o trabalho médico. Com isso, ganharíamos tempo, os custos com internamentos e investigações laboratoriais e radiológicas seriam reduzidos e, certamente, salvaríamos mais vidas, porque já seriam conhecidos os dados clínicos dos pacientes.
É urgente que a Saúde comece a caminhar para uma integração dos serviços e da informação, pois, do modo como estamos fazendo, há um desperdício de recursos que não temos sobrando. E que fizeram falta em cada vida perdida sem o correto atendimento.
FONTE:
Na bacia das almas das negociações para o segundo turno, em Feira, a vereadora Eremita Mota foi nomeada para a Secretaria de Educação. Causaria espanto se a política não fosse uma eterna montanha russa – ou roleta –, a surpreender o cidadão.
A situação da Educação, em Feira – aliás, na Bahia – é dramática, sem que a cidade, apesar do longo tempo de ocupação do poder, pelo mesmo grupo, consiga avançar globalmente no IDEB. Ao nomear alguém sem expertise específica para a área, o prefeito faz uma sinalização ruim.
Dizem que a nomeação foi uma garantia por acordos anteriores com o partido, que não foram cumpridas. Pode ser só boato, é claro, mas o fato é que o prefeito eleito já sinaliza que a vereadora não teve o empenho necessário na campanha e o assunto teria de ser revisto. Aproveitando o afastamento por Saúde, da titular, o prefeito nomeou Beldes, interinamente.
Eremita, assim, se torna a breve. A educação precisa ser tratada como algo mais sério que acordo eleitoral. Aguardemos.
Enquanto o Brasil ultrapassa 173 mil mortos, várias cidades voltam a aumentar a taxa de ocupação de leitos, suspendem cirurgias eletivas, algumas ameaçam chegar ao colapso, e, em Feira, o HGCA 2 reabre e lota as UTIs destinadas à Covid-19. E o general investido do cargo de Ministro da Saúde sai a declarar asneiras.
Ele disse: “o verdadeiro diagnóstico não é o teste, é o clínico, porque o teste pode ser falho. É o médico que diagnostica, que pode se basear numa tomografia, na epidemiologia dos casos, no entorno, e que pode se basear nos sintomas que ele está vendo. Não é o teste que diagnostica, é o médico. E não era assim. Então, eu acho que a quantidade de testes é compatível, sim."
Não satisfeito, emendou o desserviço: "se todo o processo eleitoral dos municípios, com todas as campanhas, aglomerações e eventos, se isso não causa nenhum tipo de aumento de contaminação no nosso país, então não se fala mais em afastamento social”.
O Ministro deveria estar ocupado em explicar os 6,5 milhões de testes estocados em Guarulhos e prestes a perder a validade. Infelizmente, no momento em que mais era preciso ter ciência para enfrentar a pandemia, Bolsonaro optou pelo pior Ministro da Saúde que podíamos ter.
E continuaremos pagando: com vidas!