Grandes
empresas não fazem investimentos sem análise do mercado, portanto, algo de
surpreendente deve estar havendo na economia de Feira, seja de forma momentânea
ou como perspectiva de futuro. O mercado imobiliário segue fazendo lançamento de
condomínios em ritmo acelarado, as farmácias proliferam como se esta fosse uma
cidade hipocondríaca. O mais surpreendente, no entanto, é a chegada de três
grandes redes de supermercados além das que já temos na cidade. O Economart,
Hiperideal e o Sams Club, desembarcaram ao mesmo tempo acirrando- ainda bem- a concorrência
pelo cliente. É um sinal, sem dúvida, que a economia de Feira tem vida própria
independente dos poderes públicos.
José Ronaldo foi eleito para seu quinto mandato à frente da Prefeitura, além dos dois mandatos- de Tarcísio e Colbert- de indicados por ele. É um feito marcante sem dúvida, e é preciso reconhecer a capilaridade, persistência, que seus governos deixaram no eleitor feirense. É um feito significativo, de liderança e popularidade. Ronaldo transformou o ar de simplicidade, modéstia, acessibilidade e amor a Feira em um capital político de resultados. Muitos apreciam a regularidade, constância, de seu modelo de governar .
Neste governo, José Ronaldo( 73
anos), pelo que já disse em entrevistas, deve fazer de sua administração o canto do cisne, construindo o melhor de seus
mandatos. E sem disputar a reeleição, embora político quase nunca seja dono do
seu destino. Para ele é importante sair sem ser derrotado em nenhuma das
eleições o que venhamos e convenhamos é um feito memorável.
Apesar de ter sido a mais
emocionante disputa eleitoral em Feira nos últimos 25 anos a verdade é que o
desenho já estava formado desde a eleição anterior. Em 2016, José Neto teve
46.912 votos ( 15,7%) e José Ronaldo teve 212.408 votos ou 71,2% do eleitorado.
Em 2020, na disputa contra Colbert, José Neto obteve 138.073 votos( 46%), um
crescimento de 94.000 mil votos, e
Colbert ficou com 164.000 ou 54% dos
votos. Os números sinalizavam um profundo desgaste do governo municipal. Nesta
eleição José Neto obteve 154.147 votos (46,7%), e José Ronaldo venceu com
165.970 votos (50,32%) uma diferença de 12 mil votos.
Pelos números é possível observar
que o crescimento de José Neto em relação a eleição anterior foi de 16.000 votos sugerindo que a forte
campanha contra Colbert serviu para desgastar a imagem do prefeito, mas rendeu
menos do que o esperado. Por sua vez, Ronaldo, manteve a mesma votação de
Colbert na eleição passada com apenas 2000 votos a mais. O resultado mostra que o eleitorado feirense
tem certa consistência nas escolhas. Os
votos que Ronaldo perdeu na eleição de 2020 não foram recuperados e se mantiveram
na oposição. Neto ainda conseguiu algum crescimento, mas certamente
desproporcional a intensidade e volume de ação de sua campanha. Ronaldo, por
sua vez, mostrou que seu recall é muito forte.
Ao que parece temos uma cidade
eleitoralmente dividida, com ambas as partes com um capital político muito
importante nas mãos e que está se mantendo nestes últimos anos. A mensagem de
alerta fica clara: ambos os lados vão ter de mostrar muito serviço para manter
o desempenho eleitoral. Quem não lutar para conservar o eleitorado obtido
estará fora nas próximas eleições.
A disputa em Camaçari- tradicional
reduto do PT- foi para o segundo turno. Flávio, do União, teve 49,17% dos votos
e Caetano teve 49,52% na mais acirrada disputa eleitoral do estado. O
crescimento de Flávio já é uma surpresa em um território que sempre foi cativo
do PT. Agora, a indefinição leva para a cidade uma disputa estadual. O estado
deverá ir com toda força já que perdeu em várias cidades grandes incluindo Feira
de Santana. O grupo de ACM Neto, por sua vez, tudo fará para tentar tomar mais
uma grande cidade do partido do governador. O segundo turno em Camaçari será
uma luta livre na arena municipal !
Feira sempre teve limitações na gastronomia mais elaborada. A memória chega ao Chez Louis, que mantinha filiação ao Chez Bernard, de Salvador. Com o fechamento, somente por volta do ano 2000, apareceu o Tomatte Secco, criação do visionário Henrique Almeida – recentemente falecido –, que marcou época.
Foi lá que, ao fim de uma tarde e uma cerveja escura,
decidimos criar o Clube Amigos do Vinho (CAV) de Feira de Santana, que fez
reuniões mensais de harmonizações maravilhosas e que muito contribuiu para o
hábito do consumo de vinho nessa cidade.
A culinária regional, churrascarias e mariscos não abordo, aqui. Após o Tomatte Secco, tivemos a experiência temporária do Vivas e o Faenza, do empresário Jairo Carneiro, mas que se converteu a eventos fechados.
A crise econômica se refletiu no setor, até que Arthur
Pendragon – participante do reality Mestre
do Sabor, da Rede Globo de Televisão, abriu a Casa do Chef, na Artêmia Pires, com um ambiente moderno, clean e culinária de autor. Já tivemos,
antes de ele abrir o restaurante, boas conversas sobre vinho e comida, lá em
casa.
Em seguida, surgiu outro grande empreendimento no setor, com
uma casa de decoração impecável, construída, especialmente, para abrigar o
restaurante Noz, da Chef Patrícia
Melo. Sem dúvida, o mais elaborado que a cidade já teve.
Os pratos são sempre corretos e confiáveis – inclusive o carpaccio ao grana padano e o filet au poivre com pappardelle. A cocada ao
forno com sorvete, uma ótima sobremesa. Há, ainda, uma ótima – e
bonita – adega.
Recentemente, surgiu o Seen, Restaurante&Bar, no 31º andar do edifício Charmant, com estonteante vista de Feira e bela decoração de Sidney Quintella. Acoplado ao hotel, mantém um clima mais efervescente, próximo da balada, diferente do tradicional sentar, comer, conversar. O filet mignon com molho olivier é correto e o pudim com caramelo, de sobremesa, muito fino e delicado, é uma opção.
Há o Anis Bistrô, do atencioso e gentil chef Pablo Sá, que mudou, recentemente, para o Pátio Artêmia. Ele faz um arroz socarrat sensacional. Vale a experiência! O prato tem origem valenciana. É aquela “rapinha” caramelizada de arroz que fica no fundo da panela. Temos o La Celestrina, filial de Salvador, com preços bem justos e o Vino, uma franquia que tem o bom chefe Vilas Boas, na cozinha
E o Grissini, da
Chef Carol Venas, em ambiente mais simples, na Avenida Noide Cerqueira, ao qual
só fui uma vez. No entanto, adorei a releitura de uma sobremesa premiada do Tragaluz – fantástico restaurante de
Tiradentes –, que é a goiabada envolta em crumble
de castanha, aquecida, sobre uma cama de queijo. Aqui, cheese; lá, catupiry. Uma
goiabada de Ponte Nova – patrimônio imaterial de Minas – menos doce seria um ganho.
Antes do fim, algumas observações. Risoto
é uma arte. Exige sofisticação, para ter a cremosidade ideal. Nem excessiva,
que vire caldo; nem tão escassa, que vire massa. Gosto do ponto do risoto de vieira, do Mistura, em Salvador, ou de mangalô, do colega Luís Carlos,
neurologista e chef.
Sobremesa é arte. Minha sobremesa (sou apaixonado por elas!), no momento, é o semifreddo de doce de leite, ganache de
chocolate, caramelo salgado e avelã, do sensacional Olivetto, em Campinas (SP).
E a assinatura final de um restaurante é o petit four, uma expressão francesa que
significa "pequeno forno". São pequenos doces ou aperitivos servidos
como acompanhamento ao chá ou café. O do La
Tambouille, em São Paulo, é imbatível. Nesse quesito, todos de Feira ainda
estão nos devendo!