Por Antonio César de Oliveira
A escolha
Há instantes na vida que são inaugurais e consagradores, e este é um deles. Ser paraninfo da Turma 2015.2, de Medicina, da FTC, é uma imensa alegria. Ao receber a inesperada notícia por meu filho, também formando, senti uma grande e inesperada emoção. É com autentica sensação de realização que agradeço a honra imensurável e inesquecível da escolha, oportunidade que nunca poderei silenciar na memória. Da relação nascida no “científico” evento “da entrada ao quarto” até este instante, fizemos um longo percurso. Assim, a raridade do que me concedem me torna devedor permanente da generosidade grandiosa de todos. Bem, dizem que o discurso do paraninfo é a última aula da turma, então, nesta despedida vou tentar dizer algumas coisas os ajude a ter uma vida boa e plena.
Os pais
Não seria justo homenagear os filhos, sem antes reconhecer na obra pronta a arte de carpintaria dos pais. Foi a partir do amparo e cuidado dos senhores que eles partiram jovens e estão voltando homens, com um ofício digno e significativo. Eles não o fariam sem a mão, por vezes invisível, da família, a lhes ajudar nas escolhas, a nortear os limites. Então, que cada um de vocês se alegre entre os homens, não apenas pela vitória dos filhos, mas por saberem que este diploma é um reconhecimento pelo grande trabalho que fizeram ao educá-los. Parabéns a todos os pais. E vocês, prezados formandos, não esqueçam a difícil lição de que nós, pais, costumamos ter razão.
Conteúdo médico
Adquirir conteúdo médico é trabalhoso, mas tornar-se médico, é interminável. Exige dedicação para construir uma base de informações sem esquecer que esta é móvel e precisa ser persistentemente atualizada, pois os avanços costumam demolir as maiores certezas cientificas; exige capacidade de trabalhar em condições adversas, para enfrentar as limitantes, desafiadoras e desgastantes condições do nosso sistema de saúde; exige desenvolvimento apurado da capacidade de comunicação e compreensão de tudo que compõe o humano- e nada do que é humano nos é estranho-, para que se possa construir uma relação ampla, conectada, que não esvazie seu sentido nos limites técnicos e não torne o outro, o paciente, algo fragmentado e indiferente, um erro cada vez mais frequente e imperdoável da medicina moderna.
Permitam-me lhes contar um caso:
Fui criado na roça, sem luz, sem TV, e sem watts app. Sim, o mundo existiu antes dele. Creiam em mim. Alfabetizei-me na escola rural de minha mãe, ali presente, e, aos dez anos, meu pai resolveu me mandar estudar em Salvador. Para fazer testes no colégio fiquei na, “república”, para ser gentil, que meu irmão, aqui presente, morava. Tinha lá um sujeito chamado João que ao ver-me, um pequeno tabaréu, me levou ao Porto da Barra pra ver o mar a primeira vez. Ele me soltou, quase me afoguei, pois não sabia nada. Ele disse que me ajudava a atravessar aquele mar e me comprou um picolé. Achei aquele o melhor dia do mundo. E ainda acho. Fui morar só, aos dez anos, e nunca mais vi João. Quando perguntava a meu irmão por ele sempre esquecia o sobrenome e dizia: João que me levou pra ver o mar e assim ele ficou sendo este João. Nunca mais o vi. Passado mais de 35 anos, um dia, ao chegar ao plantão da UTI, alguém disse meu nome. Era João. Com dificuldade disse que era contador da Unimed, professor da Uefs e lia minhas crônicas no jornal. Fazia um sério tratamento e estava grave, mas lúcido. Corrigi os eletrólitos e passamos a noite juntos, eu ajudando-o a atravessar o mar de angústia que é estar na UTI. O dia amanheceu e logo depois João faleceu. Foi a última noite dele. Fiquei pensando nas pontas que juntamos de nossas vidas: ele me ajudando no meu primeiro mergulho e, eu, no mergulho derradeiro dele. Escrevi uma crônica em que disse que sendo ele como era, amigo, cuidadoso comigo, para ir tão cedo, devia ter sido para ver o oceano maior de todos: assim, quando for meu dia de chegar por lá, eu, que continuo sem saber nadar, não terei dificuldade nenhuma em atravessá-lo: será só mandar chamar um sujeito chamado João, João que me levou pra ver o mar.
Prezados formandos, lembrem-se do que disse o psiquiatra Carl Jung: conheçam todas as teorias, dominem todas as técnicas, mas ao tocarem uma alma humana, sejam apenas mais uma alma humana.
O esforço
Por terem adquirido o conteúdo, vocês, jovens, são vencedores. Orgulhem-se de sua conquista. Vocês merecem o pódio e os aplausos. Vocês estão aqui, mas no meio do caminho tiveram uma imensa carga horária com tutoriais, provas, plantões, aulas e aulas. Como diz o poeta feirense, Antonio Brasileiro, “para nosso barco pequeno, chegaram-se tão grandes mares”. Agora que os atravessaram, as avarias se tornam apenas lições; as dificuldades, um caminho para a sabedoria; os erros, apenas amadurecimento. Sempre trabalhei muito, desde garoto, até o doutorado, até estar na fundação do curso de medicina da Uefs e coordená-lo até formar a primeira turma, então, o que pensei e realizei de melhor foi com esforço, como vocês acabam de fazer. Formandos acreditem no poder do trabalho como algo capaz de ajudar muito a tal da sorte.
Tornar-se médico
O alívio, no entanto, é temporário. Apartir de agora, deverão trabalhar diuturnamente para “tornaram-se” médicos. Digo aos alunos que precisamos ser maximamente eficientes e minimamente invasivos à integridade física, econômica e afetiva do paciente. Ou seja, para manter a precisão técnica, estudem permanentemente, pois não poderão nunca se acomodar no saber dominado porque a desatualização é implacável com os acomodados e injusta com os doentes. Precisam respeitar o dinheiro público- e vivemos tempos de assustadora e vergonhosa falta de ética- e o utilizá-lo sem desperdícios buscando o maior benefício de suas escolhas. No privado, precisam corresponder com maestria ao investimento do paciente em seus serviços. Afetivamente, não esqueçam jamais, que quem os procura o faz no limite de sua fragilidade física e emocional, buscando acolhimento e amparo, depositando na sua arte e sabedoria profissional toda esperança, algo divina, algo humana, da salvação e cura de suas dores. Para isso, mantenham sua alma habilitada e não apenas as mãos. O médico é aquele de quem se exige, cotidianamente, fazer o bem. E, hoje, mais que fazer o bem precisa não fazer o mal.
Por volta de 1789 a poderosa rainha Vitória, da Inglaterra, encomendou um quadro ao marchand Tate. Este, por sua vez, o encomendou a Samuel Fields que escolheu pintar uma homenagem ao médico que havia assistido a morte de seu filho, na noite de Natal. No estúdio, ele refez o quarto, numa zona fria e carvoeira da Inglaterra, como estava naquela noite. No quadro podemos ver a mãe desesperada, o pai tentando manter a postura, alguns fracos vazios de medicamentos, as primeiras luzes do dia na janela e, ao centro, dominante, o médico, com a mão ao queixo, olhando, impotente, a criança falecida, sobre duas cadeiras. Apesar do insucesso do tratamento o pai ficou tão satisfeito e agradecido com a qualidade do atendimento que ao ter a chance da glória, da imortalidade, escolheu homenagear Dr. Murray. Tate tornou-se a principal galeria de Londres, o quadro chama-se o Doutor (1891) e caso visitem Londres não deixem de vê-lo, pois acho que esta é a maior e mais simbólica pintura médica da história.
Prezados formandos: lembrem-se que nossa missão é curar algumas vezes, aliviar frequentemente, consolar sempre.
O dinheiro e a soberba
Ouçam, ouçam, que ser bom médico é ter ouvido para a dor alheia seja física ou imaginária. Em um mundo cada vez mais apressado, estressado, individualista, esta qualidade é essencial. Não se deixem contagiar pelo sentimento de ganância ou soberba tão próprios de quem de algum modo domina a vida e a morte. E que tão facilmente costuma nos pegar desprevenidos. Não sejam rasos, nem se deslumbrem com o traiçoeiro poder. A verdadeira realização deve ser a da consciência em paz pelo trabalho bem feito. Não apenas usem protetor solar, mas tenham motivos para dormirem bem.
Certa vez cuidei de um garoto que tinha ido pescar com o pai. Foram atacados por abelhas. O pai correu e chegou ao rio, o filho não. E fez uma IRA. Fiz diálise peritoneal, na UTI, do HGCA. Como era o único nefro, fui ao hospital todos os dias. Quando faltou antibiótico, levei. Quando faltou solução de diálise, levei da clinica. Seu drama ficou público e toda cidade acompanhou. Saiu bem. Dei alta. Certo dia, muito depois, indo pra Uefs, parei no acostamento por algum motivo. Ao voltar para o carro vejo um homem sem camisa, de bicicleta, vindo em minha direção. Não nego que pensei, instintivamente, o que pensamos nestas horas: me ferrei! Calma. Ele disse: Dr. César. Eu piorei o pensamento: foi encomenda, oh meu deus, que foi que eu fiz, acabei de chegar à cidade. Aí ele disse: eu sou o pai do garoto das abelhas Dr. Estou todo arrepiado. Olha aqui doutor e começou a chorar agradecido. E aquele homem sem camisa, chorando, arrepiado, aliviado da culpa de não ter salvado seu filho das abelhas, às dez da manhã, no implacável sol feirense, é algo que nenhuma remuneração poderia me pagar.
Prezados formandos: amem serem médicos, amem tanto de nunca se imaginarem sendo outra coisa, amem a profissão mais que seus rendimentos e terão seu lugar de sucesso e glórias pessoais garantidos
A vida
Não permitam, ao longo de suas vidas, que outras dificuldades se tornem impedimentos, não se curvem ao desanimo ou as eventuais derrotas, pois como diz JCM Neto é preciso às vezes “cultivar o deserto como um pomar às avessas”. Não compactuem com os erros. Cuidem de sua existência pessoal, reservem o espaço da família, e zelem por suas escolhas com desvelo. Conservem imaculada como pedia Hipocrates ”sua vida e sua arte”. Cresçam, diversifiquem-se. Uma citação de Abel de Lima diz que “o médico que só sabe Medicina, nem de Medicina sabe”. Quanto mais aprenderem, com mais compreensão irão cuidar da miríade da natureza humana. Mantenham a elegância do discurso e dos gestos sem renunciar á força das palavras. Use-as para exercer sua responsabilidade social e não se omitirem diante de políticas de saúde equivocadas, irresponsáveis, e que tanto violentam o mérito e a qualidade da prática médica. Ergam-se como gigantes na defesa da verdadeira medicina, do respeito humano e da liberdade, onde ela for ameaçada. Prezados formandos, tenho certeza, que vocês estão à altura de qualquer desafio que se propuserem.
Hábitos
Cultivem bons hábitos. Sejam gentis, que a gentileza é uma trégua. Relevem o possível e corrijam só o necessário. Sejam tolerantes, porque o mundo é plural e diverso, e, toda, toda, escolha é legitima e deve ser compreendida. Não se levem a sério demais. Riam, inclusive, e especialmente, de si mesmos. Encontrem seu caminho, sejam felizes. Façam, refaçam, insistam. Recomecem, tantas vezes quanto necessário, sem pudor. Navegar é preciso, viver não é preciso, ou, navegar é exato, viver não é exato, mas o maior naufrágio é sempre não partir. Prezados formandos, lembrem o que disse o fantástico padre Vieira: nós só existimos quando fazemos, quando não fazemos, apenas passamos. Façam.
O filho
Peço, agora, que me permitam a gentileza de dirigir-me, por um minuto, ao meu filho. Prezado filho, comemorei semana passada, com os colegas, 30 anos de formado. De clínica e ensino. E lá, de alguma forma, me vi, outra vez, exatamente onde você está. Você tem mais certezas do que eu, mais informações do que eu, que vim do estudo a luz do candeeiro, você tem mais possibilidades do que eu. Aproveite-as. É assim o destino correto e natural de pais e filhos. Assim, confio em você, como sempre escolhi, confiar. Os temores de pai são apenas alertas aos deuses que não deixem de zelar por meu mundo. Acredito nas suas escolhas e sei que fará uso justo e humano da medicina, da refinada e exigente habilidade de ser médico. Seja ético, não descuide dos seus, dos amigos, ou dos que estão sob seus cuidados. E viva ao som e ao tom – você que tanto gosta de tocar - dos seus sentimentos. Seja um homem de bem, como me ensinou meu pai, e eu me bastarei. Assim, nosso “binômio” permanecerá em você quando eu não mais exercer o ofício. E eu saberei que todo amor que lhe tenho não terá sido em vão. Obrigado por este momento. Você o desenhou e por ter o dado a mim e não eu a você, eu o invejo. Siga tocando em frente e cuide-se. Amo você.
Afilhados
Digo a vocês as mesmas palavras com as quais os torno filhos como meu filho, e os abraço como o abraço, e os acolho com o mesmo afeto e sentimento. Como os meus, mantenham seus abraços ao alcance dos outros; não se dispersem, nem se desfaçam de si próprios, pois nada farão, ou se tornarão, que não seja conseqüência do que fizeram nestes longos anos de crescimento e despedidas do que eram. Há uma frase que diz: “o amor mata o que éramos para que nos tornemos o que ainda não somos”. Por isso, formandos, sejam merecedores do que adquiriram, creiam no que podem se tornar, preservem consigo os melhores ideais do humano, e serão do tamanho real de seus sonhos e escolhas.
Finalizando
Lembre-se que o Curso de Medicina, irá com vocês, como um compromisso que não se desfaz em poeira de ossos. Honre-o sempre, porque a Medicina e a memória desta faculdade os honrarão permanentemente.
Então, enternecido pela confiança e escravo do amor e da amizade que nos unirá e os reunirá para sempre em meu coração me dirijo e me despeço agradecido, pela última vez, de vocês, e lhes digo, colegas, afilhados, começando agora, gloriosamente, sejam bem vindos à melhor parte da história da vida de vocês. Façam bem feito a parte que lhes cabe, sejam justos e o mundo se dobrará aos seus pés. Digo que valeu. Parabéns, sucesso e muito obrigado.
Por Jessica Feitosa de Almeida
Gostaria de iniciar agradecendo a todos que hoje compõe a nossa mesa diretora e que, certamente, são grandes facilitadores para esse momento único das nossas vidas. Desta forma, gostaria de levar meus cumprimentos à Dra Leda Solano, coordenadora e parte fundadora do curso de medicina da FTC, que não só tornou concretos os nossos desejos, como permitiu que hoje estivéssemos aqui reunidos para desfrutar dessa alegria ímpar que nos traz esta conquista. Cumprimento, ainda, os pais, familiares e amigos presentes. Esses brilhantes olhares de felicidade que vocês nos direcionam fazem esta noite ainda mais bonita. Porém, serão para os rostos iluminados dos meus colegas de turma que irei me dirigir a partir de agora.
Caros colegas, talvez vocês não tenham tomado sua melhor decisão ao me colocar nesse púlpito e me designar a missão de lhes direcionar algumas palavras. Hoje, boa parte da minha família ganha sua primeira médica e uma menina encontra seu céu da amarelinha, o seu sonho de travesseiro. Então, desde já, peço desculpas pela emoção tão aflorada. Bom... Jennifer, minha irmã, eu ainda não posso te dar uma casa, mas queria te dar sonhos. Sonhos de meninos que iniciaram sua caminhada muito antes dos vestibulares aparecerem em suas mesas e de seus corações serem postos em pequenos ‘X’. Sonhos de pessoas que se dedicaram a um objetivo: fazer o melhor naquilo que se propuseram. Sonhos daqueles que acreditaram e se esforçaram muito até encontrarem suas primeiras conquistas. Sonhos dos que, ainda incertos de suas escolhas, depositaram o melhor de si nesta caminhada. Nos encontramos há 6 anos e aprendemos juntos o que significa estar aqui hoje. Trilhamos uma passagem que nos ensinou, ou pelo menos tentou nos ensinar, os valores e preceitos da construção de um profissional. Aliás, desde cedo já começamos a partilhar das responsabilidades que a nossa escolha trazia e ainda tínhamos direito a um brainstorm semanal nas pequenas salas de tutoria. Fomos histofisioanatomomaratonistas para não encontrarmos as portas das salas fechadas e campeãs de paciência da fila diária na biblioteca. Cada degrau alcançado dividia experiências e imprimia sapiência. Começamos a passear pelo raciocínio da clínica até entrarmos as salas de cirurgia. Construímos em nossas mentes desejos incontidos de investigar queixas, encontrar causas e resolver seus enigmas. E mantivemo-nos juntos, mesmo quando nos jogaram bombas de realidade. Foram incontáveis horas de estudo, solitárias ou bem acompanhadas. Mas logo pudemos nos ver carregando a nossa teoria e destilando-a em nossos pacientes, ainda com as mãos receosas de aprendizado. Acompanhamos a beleza de um ser que chega ao mundo e a dificuldade da despedida para os que deixam. E quanto crescimento nos coube neste caminho! Crescemos como estudantes, colegas, futuros profissionais e, como gente, como seres humanos. Hoje estamos aqui, em uma página final de um capítulo cheio de continuidades. Em verdade, somos essa página final hoje.
Somos os sorrisos e a diversão garantida de Rafaela e Taiana; a boa argumentação de Warner; o jeito bonito de Paloma; a genialidade de Yuri; os bons questionamentos de Jacson; a dedicação de Gabriela; a esperteza de Marcelo; a quebra de rotina de Roberta Muniz. Somos a doçura de Fernanda; a força de Raíssa; a efusão de desejos de Cláudio; a capacidade de Victor; o intelecto de João Vidal; e o encanto de Lucas Rocha. Somos a poesia de Isaura; a inteligência de Mayara; o raciocínio de Talita; e a perspicácia de Roberta Gundim. Somos a decisão de Lismara; o silêncio intelectual de Lucas Góes; a simplicidade de Armando; e o desespero de felicidade de Isabelita. Somos a alegria de Keila e Lídia; a receptividade de Fádia; a educação de Érica; e o lindo sorriso tímido de Andréia. Somos as orações de João Paulo; a excelência de Patrícia; a discrição de Antônio Carlos e Priscila; a oratória de Alexsandro; os cochilos produtivos de Gilmar; e o alto astral contagiante de Ciro, Christiano e Fernando Henrique. Somos a capacidade crítica de Ítalo; a meiguice de Lailla; e a resolutividade de Mônica. Somos a espontaneidade de Bárbara, o companheirismo de Francisco e a seriedade genial de Sarah. Somos malvados favoritos, como Átila. Somos a beleza da miudeza das coisas, como eu. Somos isso. Resumidos em um parágrafo, separados em pequenos grupos, unidos nessa nossa conquista. Somos meninos que caminharam e chegaram a um muro. E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está. E o futuro, essa astronave que tentaremos pilotar, irá nos levar a tantos outros sonhos e a mais corredores e a mais aprendizados; e nos fará lembrar daquela trilha que começamos. Aquela que nos trouxe aqui e que nos une em sentimento. Aquela mesma que hoje se bifurca, que hoje se multiplica e que nos levará a sermos meninos cada vez melhores.
FORMANDOS
Não estou estabelecendo um veredicto contra o impeachment, ao contrário, até porque considero Dilma um ser absolutamente incapaz, mas quero assinalar que a carta de Temer foi uma das coisas mais rasas que já vi.
O homem ocupa o segundo cargo da República e escreve uma carta à presidente, eivada de vaidades, de reclamações de prima donna deixada de fora do baile, após ter se comportado de forma servil e conivente em todo período de governo, barganhando cargos, até o limite do próprio interesse.
Agora, ao invés de produzir um documento consistente, firmado em bases técnicas e políticas, que apontasse erros ou saídas, manda um documento digno de um amante rejeitado.
Imagino esta carta registrada em um livro de história e lida com o distanciamento do tempo, por historiadores. Certamente pensarão ter sido publicada originalmente numa revista de frivolidades televisivas. Precisamos exigir mais daqueles que lideram a nação.
A tragédia de Mariana foca a morte do rio Doce, relegando ao anonimato as vidas perdidas e os ainda desaparecidos. É preciso que estejamos atentos para que o crime contra a natureza não sirva de esconderijo para a brutalidade das omissões que resultaram na tragédia. Até o momento o que temos acompanhado é uma assustadora omissão da empresa responsável. Que ao menos a Justiça não se baste com multas ambientais que são executadas em menos de 8% dos casos.
Há cem anos combatemos, sem vencer, o Aedes Aegypti. E, agora, com a zika e os 1800 bebes com microcefalia, somos expostos de forma cruel e absurda ao monumental desrespeito de nossos administradores com a população.
A ausência de investimentos adequados, os desvios dos recursos da saúde, mais que água parada, constituem o verdadeiro foco de proliferação da doença.
As famílias expostas a esta dor interminável, ao custo de assistência à saúde destas crianças, à modificação dos sonhos de suas vidas, amputadas do normal por uma doença evitável, são de uma dureza desesperadora.
Nós, cidadãos, não podemos continuar a tolerar o perfil de administradores que estamos elegendo com nossa indiferença política.